Ciencia Nueva. Revista de Historia y Política | e-ISSN 2539 - 2662

Vol. 4 Núm. 2 | Julio - Diciembre de 2020 - Pereira, Colombia





ESTUDIOS HISTÓRICOS

DOI: https://doi.org/10.22517/25392662.22941 - pp 1-24



CIÊNCIA DA IGNORÂNCIA OU IGNORÂNCIA DA CIÊNCIA? AGNOTOLOGIA E LADINOAMEFRICANIDADE A PARTIR DE EXPERIÊNCIAS BRASILEIRAS E COLOMBIANAS*


¿CIENCIA DE LA IGNORANCIA O IGNORANCIA DE LA CIENCIA? AGNOTOLOGÍA Y LADINOAMEFRICANIDAD A PARTIR DE EXPERIENCIAS BRASILEÑAS Y COLOMBIANAS


SCIENCE OF IGNORANCE OR IGNORANCE OF SCIENCE? AGNOTOLOGY AND LADINOAMEFRICANIDADE STARTING BY BRAZILIAN AND COLOMBIAN EXPERIENCES




Recibido: 13 de septiembre de 2019.

Revisado: 13 de septiembre de 2019.

Aceptado: 14 de noviembre de 2020.

Publicado: 31 de diciembre de 2020.


Resumo

Este texto, de natureza teórico/metodológica interpretativa e bibliográfica, objetiva tecer uma discussão crítica acerca do culto à ignorância e da ignorância do conhecimento, partindo de exemplos de fatos sócio/históricos ocorridos principalmente em território brasileiro e colombiano. A problemática está fundamentada na seguinte pergunta: quem ou que grupos sociais, ao ignorar questões de gênero e etnia/raça, enquanto pensar o conhecimento produzido nas universidades e formação de futuros acadêmicos, contribuem não só para perpetuar a ignorância da ciência disfarçada pela neutralidade, imparcialidade e objetividade, mas também para não permitir que certos sujeitos adentrem nestes espaços? Para atender ao objetivo e problemática propostos, dentre outros conceitos, são apresentados o conceito de agnotologia e de ladinoamefricanidade, pensados pelo estadunidense Robert Proctor e pela brasileira Lélia Gonzáles respectivamente. Entende-se que estes dois conceitos articulados oferecem possibilidades outras de se questionar, enquanto sujeitos, sociedade e academia: Afinal, até quando será promovida a ignorância da ciência a partir da ciência da ignorância?

Palavras-Chave: agnotologia, ladinoamefricanidade, conhecimento, ignorancia, política, ciencia, tecnologia.


Resumen

Este texto, de naturaleza teórica / metodológica, interpretativa y bibliográfica, tiene como objetivo proporcionar una discusión crítica sobre el culto a la ignorancia y la ignorancia del conocimiento, a partir de ejemplos de hechos socio históricos, que ocurrieron principalmente en el territorio brasileño y colombiano. El problema de investigación se basa en la siguiente pregunta: ¿quién o qué grupos sociales, al ignorar cuestiones de género y etnia / raza, mientras piensan en el conocimiento producido en las universidades y en la formación de futuros académicos, contribuyen no solo en perpetuar la ignorancia oculta de la ciencia por el discurso de la neutralidad, imparcialidad y objetividad, pero también para no permitir que ciertos sujetos estén en estos espacios? Para cumplir con el objetivo y el problema de investigación propuestos en este artículo, además de otros conceptos, se presenta el concepto de agnotología y ladinoamefricanidade, presentado por el científico americano Robert Proctor y por la científica brasileña Lélia Gonzáles. Se entiende que estos dos conceptos articulados ofrecen otras posibilidades de cuestionarse, como sujetos, sociedad y academia: Además, ¿durante cuánto tiempo se promoverá la ignorancia de la ciencia a partir de la ciencia de la ignorancia?


Palabras clave: agnotología, ladinoamefricanidade, conocimiento, ignorancia, política, ciencia, tecnología.


Abstract


This article, of a theoretical / methodological nature, interpretative and bibliographical, aims to provide a critical discussion about the cult of ignorance and ignorance of knowledge, starting from examples of socio - historical facts occurred mainly in Brazilian and Colombian territory. The research problem is based on the following question: who or what social groups, ignoring questions of gender and ethnicity / race, while thinking about the knowledge produced in universities and the formation of future academics, contribute not only to perpetuate the ignorance of science hidden by neutrality, impartiality, and objectivity, but also not to allow certain subjects to enter these spaces? In order to meet the proposed objective and the research problem, among other concepts, the concept of Agnotology and Ladinoamefricanidade, presented by the American scientist Robert Proctor and the Brazilian scientist Lélia Gonzáles, are presented. It is understood that these two articulated concepts offer other possibilities of questioning, as subjects, society, and academia: how long will the ignorances of science be promoted from the science of ignorance?


Keywords: agnotology, ladinoamefricanidade, knowledge, ignorance, politics, Science, technology.


1. Conversa introdutória

Problematizar os conhecimentos e saberes produzidos em centros de pesquisa e universidades requer ter a consciência de que estes são frutos de experiências e aprendizagens concretas/históricas percebidas entre os sujeitos e instituições às quais representam, sempre com disputas discursivas e políticas. Significa dizer que todo conhecimento científico e tecnológico produzido está em busca de uma constante afirmação: produzir fundamentos considerados verdadeiros à sociedade até que sejam repensados, invalidados, refutados, criando-se aqui outros paradigmas1.

Destarte, pensar no caráter ideológico destes conjuntos de conhecimentos e saberes produzidos, também diz respeito a pensar em quais grupos sociais tem ou não acesso nestes espaços. Um exemplo remete ao acesso à educação pelas mulheres: este só se deu com as lutas de movimentos feministas/sociais do século XIX, bem como das críticas feministas produzidas no século XX, tanto na academia quanto principalmente fora dela2.

Portanto afirma-se, a partir do exemplo citado, que os estudos críticos da ciência e tecnologia tem como elementos balizadores não somente evidenciar as disputas de poder no processo de fazer ciência entre os grupos sociais envolvidos: estes querem evidenciar que estereótipos afetivos, cognitivos, raciais, étnicos e morais estão involucrados na própria ciência e tecnologia em si mesmas, disfarçados pelo discurso objetivo, neutro, imparcial, característicos deste pensar e produzir conhecimento.

É pertinente destacar neste texto que, em totais, as mulheres brasileiras e colombianas são a grande maioria de estudantes com uma formação universitária em nível de graduação3.

Porém, é sabido que as mulheres enfrentam inúmeras dificuldades para serem reconhecidas em suas profissões, assim como assumir posições de chefia e comando de equipes, especialmente em carreiras nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia, matemática e medicina (CTEM). Em alguns campos das engenharias, como exemplo, a presença de mulheres engenheiras não ultrapassa o teto de 30% do total de trabalhadores e/ou estudantes, neste último caso, tanto em nível de graduação quanto em nível de pós-graduação4.

Quando se pensa em indicadores acerca da situação educacional, social e econômica de pessoas negras e indígenas, tanto brasileira quanto colombiana, a complexidade é maior. Isso se dá tanto pela parca existência de dados que mostrem a representatividade/atuação destes grupos sociais nestes campos, quanto em problematizar, sem vieses simplistas e determinantes, por que estas populações têm menor acesso aos serviços básicos de educação, saúde, moradia, segurança e trabalho digno; especificamente, neste caso, falando em ensino superior5. Portanto, estas provocações iniciais nos levam a questionar por que há tão poucos grupos sociais significativos da população brasileira e colombiana em laboratórios, no exercício da docência universitária em determinadas áreas ou ainda em centros de inovação tecnológica, especialmente em carreiras CTEM, portanto espaços de disputas de poder6.

Uma vez que este questionamento inicial se propõe a destacar todo o processo histórico, colonial, cultural, econômico, epistemológico e escravagista de exclusão de determinados grupos sociais do continente latino-americano a condições dignas de existência e vivência. Assim como também do silenciamento e desqualificação de conhecimentos produzidos por mulheres, pelas comunidades afros, LGBTIQ+7 e indígenas (especialmente de mulheres negras e indígenas)8, impactando até hoje nos modos como se pensa um conhecimento produzido dentro e fora da academia, como se forma um pesquisador e pesquisadora e, por fim, quem pode ou não adentrar nesses espaços9.

Para este texto, a discussão central está fundamentada na seguinte problemática: quem ou que grupos sociais, ao ignorar questões de gênero e etnia/raça, enquanto pensar o conhecimento produzido nas universidades e formação de futuros acadêmicos, contribuem para não só perpetuar a ignorância da ciência disfarçada pela neutralidade, imparcialidade e objetividade, mas também para não permitir que certos sujeitos adentrem nestes espaços?

A resposta desta problemática perpassa em tecer aproximações entre dois conceitos, respeitando evidentemente seus escopos epistemológicos, temporais e analíticos, uma vez que ainda são raras essas aproximações entre eles. O primeiro, a agnotologia, remete a discutir como que ignorar (intencionalmente ou não) percepções de gênero, etnia e raça, (ao pensar e produzir conhecimento) pode gerar consequências nefastas não só para determinados grupos sociais, mas também para a própria ciência e tecnologia em si mesmas, uma vez que a agnotologia também é interdependente do conhecimento.

O segundo conceito utilizado, o da ladinoamefricanidade, remete oferecer uma possibilidade epistemológica de questionar a própria história e formação social latinoamericana, enquanto sujeitos pertencentes a um grande continente colonizado e escravizado, onde os saberes próprios deste continente multifacetado são considerados, muitas vezes, subalternos pela lógica reificada10 imposta pelo pensamento colonial europeu, ocidental e racialmente branco, este consagrado academicamente pelo que se entende por conhecimento.

Quanto à natureza metodológica deste artigo: cabe pontuar que se trata de uma produção teórico/interpretativa e bibliográfica, pensada a partir de fundamentos epistemológicos utilizados na construção de um estudo a ser apresentado no Brasil11. Outrossim, esta discussão teórico/crítica está pensada em dois momentos, após esta conversa introdutória/metodológica. O primeiro deles concerne a apresentar fundamentos da agnotologia e como o culto (deliberado ou não) à ciência da ignorância promove rasgos sexistas e racistas na produção e pensamento científico/tecnológico, chamando também outros autores para este debate, evidentemente respeitando as aproximações e diferenças epistemológicas entre cada autor e autora. Já o segundo momento, ao discutir os fundamentos da ladinoamefricanidade, oferece-se, a partir desta epistemologia e também dialogando com outras autoras, autores e exemplos sócio/históricos, possibilidades de se pensar em outros lugares para a produção de conhecimento: abarcantes às diversidades e diferenças de sujeitos comumente estigmatizados, e do próprio conhecimento em si/para si mesmo.


2. A ciência da ignorância ou a ignorância da ciência mediante questões de gênero, culturas e raça?

Ao realizar sua festa de aniversário de cinquenta anos na cidade brasileira de Salvador, capital do estado da Bahia e cidade com a maior concentração de população negra fora de África no mundo12, a então diretora de moda da revista Vogue Brasil convidou alguns dos mais importantes artistas e celebridades do país. Algumas das imagens desta festa, que circularam nas redes sociais, suscitaram inúmeros comentários negativos, promovendo uma verdadeira revolta midiática principalmente em razão da imagem mais veiculada e, no mínimo, problemática: a então diretora de moda da revista, mulher branca, sentada em uma cadeira ornamentada e que facilmente pode ser correlacionada à cadeiras ornamentadas encontradas durante o período de escravização oficial brasileira, ao lado de duas outras mulheres, estas negras e com vestimentas típicas da sua cultura, ancestralidade e religiosidade baiana13.

Diante das repercussões negativas desta imagem em específico, a então diretora, no dia seguinte à festa, explicou em seu perfil de uma rede social que a cadeira ornamentada não se tratava de uma cadeira deste período oficial de escravização brasileira e sim a uma cadeira de uma religião brasileira de matriz africana (o Candomblé14); que as roupas utilizadas pelas mulheres negras nada tinham relação com as vestimentas de mulheres negras escravizadas e sim eram vestimentas festivas. Por fim, em razão de ser sexta feira e, de acordo com esta tradição religiosa, as pessoas convidadas e que estavam trabalhando na festa foram orientadas a vestirem-se de branco. A explicação dada pela então diretora soou mais problemática: se a cadeira, de acordo com ela, era uma cadeira utilizada nesta religião, então jamais a diretora poderia sentar-se nela justamente pelo fato de que em cadeiras como esta somente se sentam as autoridades máximas religiosas do Candomblé e nos espaços próprios dos ofícios religiosos e culturais. Tanto que, quatro dias depois desta explicação em sua rede social, a diretora formalizou sua demissão da Vogue Brasil15.

Interessante pensar que este exemplo relatado se conecta com as problematizações do cientista e filósofo estadunidense Robert Proctor16, ao evidenciar os aspectos políticos/ideológicos de determinados grupos sociais produtores e promotores do conhecimento, de forma que a agnotologia é a verdadeira antítese da epistemologia, ou dizendo de outro modo: a agnotologia é uma cultura (deliberada ou inconsciente) da ignorância de determinados elementos de um conhecimento pensado, compartilhado e produzido, com fins de fazer prevalecer frente a grupos sociais uma determinada visão política e ideológica. Destarte que a agnotologia, conforme este autor, está muito além do significado da ignorância, uma vez que a agnotologia é um sistema.

No caso do exemplo relatado no início desta seção, ao se desconsiderar (ainda que inconsciente) completamente saberes do Candomblé e da cultura afro-brasileira, a ex-diretora da Vogue Brasil não só contribuiu para estigmatizar ainda mais as pessoas negras brasileiras como também se apropriou desta rica e complexa cultura para promover uma verdadeira ostentação de gosto duvidoso, reduzindo esta cultura tão viva a um mero strike a pose17, universalizando o próprio sentido/significado da moda a uma estética hegemônica branca e, ademais, extremamente classista.

Portanto, das palavras de Proctor18 (grifo do autor. Tradução nossa) “o ponto seria questionar a naturalização da ignorância, suas causas e distribuição” e da pergunta título desta seção, se busca pensar como é que a epistemologia da ignorância opera para violentar determinados grupos sociais. Incluso mediado por artefatos, técnicas, métodos e processos aparentemente neutros e objetivos.

O cientista político estadunidense Langdon Winner19 fornece um exemplo bastante pertinente à esta discussão, ao explicitar os motivos reais do porque o construtor estadunidense Robert Moses projetou aproximadamente 200 viadutos para Long Island entre os anos de 1920 a 1970, com altura menor do que a outras construções similares: privilegiando o trânsito de automóveis entre estes viadutos que localizados em bairros com boa infraestrutura de serviços públicos (lazer, educação, saúde, trabalho e moradia), evitava que pessoas pobres, estas usuárias do transporte público e, em sua grande maioria, pessoas afro estadunidenses, transitassem nestes espaços, uma vez que os ônibus não poderiam passar nestes viadutos. Define-se, portanto, que determinados espaços não são lugares para determinadas pessoas, o que é óbvio de se constatar no exemplo relatado. Entretanto não é fácil perceber esta segmentação quando se olha uma construção aparentemente neutra, racional e objetiva, como um parque ou viaduto, desconhecendo o contexto em que foram criados e o que motivou sua construção. Isso se dá em razão de que se tem o pensamento e a crença de que o artefato em si não possui estes componentes políticos.

Da mesma forma, o famoso bairro da liberdade, na cidade brasileira de São Paulo, celebrado pela variedade de serviços de gastronomia, diversão, vestuário e lazer, todos estes com forte inspiração na cultura trazida por imigrantes asiáticos (majoritariamente chineses, coreanos e japoneses), esconde um passado de violência e barbárie. Boa parte das ruas, avenidas e demais construções de hoje, outrora eram espaços destinados à tortura e assassinato de pessoas negras durante o regime oficial de escravização no Brasil20. Embora existam poucos documentos que revelam este passado e haja a tentativa, por parte do poder público, de ocultação deste passado ao não manter a história dessas antigas construções, há a memória viva de descendentes de antigos residentes do bairro e/ou mesmo daquelas pessoas que foram violentadas em sua dignidade, que se mantém intacta e não permite o total esquecimento das barbáries deste período histórico. Ou seja: há sangue negro correndo por estes espaços e muita gente não se dá conta, uma vez que os espaços e artefatos de tortura e violência já não existem mais fisicamente, embora o nome do bairro grite evidentemente por este passado. A ignorância e sua cultura se manifestam, outra vez, e disfarçada pela ciência e tecnologia materializada nas construções atuais da cidade paulistana, berço do centro financeiro brasileiro e um dos do nosso continente sul americano.

Do mesmo modo, o exemplo citado acerca do bairro paulistano da liberdade, no Brasil, pode ser correlacionado com a história de Guadalupe Zapata, uma das fundadoras da hoje cidade de Pereira, localizada no eixo cafeeiro colombiano e capital do departamento de Risaralda. De acordo com o historiador Alexander Cuervo Varela21, por ser mulher, negra, mãe solteira, e escravizada, esta colombiana teve toda sua trajetória silenciada e invisibilizada durante muito tempo na historiografia oficial da cidade. Na lista de fundadores da cidade e nas honrarias celebradas, ela não estava presente em muitos registros. Inclusive, de acordo com o historiador colombiano, Guadalupe Zapata teve sua cor de pele embranquecida em alguns dos registros que encontrou, ao fazer a pesquisa documental. Ademais, há desencontros sobre sua data e ano exatos de nascimento, que está por volta da década de 1830 a 1840. A falta de registros adequados sobre a participação das mulheres e da população negra e indígena, nos diversos momentos históricos, dificulta o resgate da história destas pessoas e constrói a percepção equivocada de que elas em nada contribuíram para a construção das cidades, estados e países, bem como, da própria ciência e tecnologia.

Somente no ano de 2013, mediante uma extensa luta encampada por descendentes de uma das pessoas pioneiras de Pereira, assim como de historiadores interessados em revelar estas lacunas agnotológicas, é que os restos mortais de Guadalupe Zapata foram trasladados para o panteão dos fundadores22, localizado na catedral da cidade que hoje conta com aproximadamente 490 mil habitantes23. É importante dizer que o trabalho deste historiador colombiano mencionado revelou como o racismo e sexismo operaram juntos para que a memória da cidade fosse contada a partir de uma perspectiva que invisibilizou esta mulher. É importante destacar, fundamentalmente, que revelar estas ignorâncias permite estabelecer outras narrativas de quem são os pereiranos.

Os quatro exemplos relatados, respeitando a temporalidade e os espaços onde ocorreram, fornecem elementos pertinentes para o debate que se estabelece aqui. Se foi dito que a agnotologia remete à antítese da epistemologia24, é fundamental dizer que esta ciência da ignorância nada tem a ver com o fato de somente ignorar algo, deliberadamente ou não, mas sim que a ciência da ignorância é uma produção social e não passiva. Significa dizer que ela é política: ao se encampar incertezas e confusões sobre determinado fato, elemento, e/ou conhecimento posto ou produzido, pela arte da manipulação do discurso e da informação, se obtém um predomínio de uma certa visão de mundo, de ciência, de tecnologias e, por fim, da própria sociedade. Ou seja: a ignorância está atrelada, também, ao conhecimento.

Assim, e com base no conceito da agnotologia, é possível dizer que o Estado Brasileiro deliberadamente promoveu a ignorância, ao transformar os espaços do bairro paulistano da liberdade, a partir da derrubada de símbolos que remetiam diretamente à violência contra a população negra25, bem como das políticas de planejamento urbano deste bairro que outrora era periférico (tanto no período imperial quanto no início do período republicano), somadas ao processo de ressignificação populacional do bairro com a chegada em massa dos novos imigrantes já nas primeiras cinco décadas do século XX. Não preservando estes espaços de violência contra um grupo social, se pode remeter à falsa ideia de que tais fatos nunca ocorreram.26 Preservar a história é importante justamente para que não se repitam estes tipos de violências.

Do mesmo modo ocorreu com o exemplo das construções em Long Island relatadas nesta seção27: o conhecimento e as tecnologias empregadas nas construções destes espaços são o retrato de uma segregação social e racial de um grupo, disfarçadas por uma visão aparentemente neutra de planejamento urbano e readequação dos espaços. Empregando uma determinada técnica e tecnologias nos processos de construção em detrimento de outras e, que, atendam os objetivos de um determinado grupo social que detém poder, é uma escolha que implica ignorar determinados fatos, conforme bem assevera Robert Proctor28 (Tradução nossa).

Crucial também é: ignorância para quem? E contra quem? Ignorância tem uma história e é sempre distribuída de forma desigual; a geografia da ignorância tem montanhas e vales. Quem é ignorante e porquê, e em que medida? Como podemos desenvolver melhores indicadores agnométricos? O que mantém a ignorância em um lugar, enquanto em outro ela se evapora? E qual, dentre nossas miríades de ignorâncias, serão toleradas ou combatidas? Muitas dessas mesmas perguntas podem ser feitas sobre o conhecimento desde como a ignorância ocupa espaço e nos leva por um caminho e não por outro. O conhecimento também tem um rosto, uma casa e um preço - há pessoas ligadas, instituições estabelecendo limites e custos na forma de dinheiro ou oportunidades perdidas. Decisões de que tipo de conhecimento "nós" queremos apoiar também são decisões sobre que tipos de ignorância devem permanecer no lugar.

Aqui se coloca um outro ponto importante neste debate, para além do que se provocou brevemente sobre raça, memória e cultura: como pensar questões de gênero mediante o conceito de agnotologia?

Ao defender a ideia de que questões de sexualidade, gênero e sexo devem ser empregadas nas gêneses das pesquisas realizadas por cientistas e em todo o processo investigativo, a historiadora estadunidense Londa Schiebinger29 argumenta, com base no conceito de agnotologia, que além de se permitirem outros métodos de análise que evitem universalismos, se abrem campos para outras perspectivas inovadoras frente a um problema de pesquisa, ao qual a autora conceitua de inovações gendradas. De tal modo que, para que estas inovações gendradas ocorram, se fazem necessárias intervenções nos modos de se pensar ciência e tecnologia. Se está falando aqui, conforme esta autora, de intervenções em políticas científicas e tecnológicas, desde laboratórios, universidades, mercado e governo.

Exemplos citados pela autora30 em seu artigo, que se menciona brevemente neste texto, remete à medicamentos desenvolvidos pela indústria farmacêutica no trato de patologias como infartos do miocárdio: ao universalizar a sintomatologia entre homens e mulheres, incorre-se em retardar no diagnóstico destas enfermidades, além de desenvolver classes de medicamentos que não atendam às especificidades entre homens e mulheres, provocando chances de maior mortalidade entre elas; também no que diz respeito ao conhecimento de comunidades subsaarianas no trato com a água e que comumente é um trabalho imposto às meninas de buscar a água31, dentre outros exemplos.

Propõe-se pensar, a partir deste ponto do texto, gênero e agnotologia a partir das experiências de mulheres negras que questionaram determinados universalismos de perspectivas teóricas feministas. Um exemplo disto é o que relata a assistente social brasileira e ativista negra Carla Akotirene32 (grifo da autora), ao asseverar sobre a tendência de universalizar o viés de gênero e raça na formulação de políticas públicas brasileiras que pouco contemplam a realidade das mulheres negras e homens negros:

No campo jurídico, podemos identificar a exclusão racial por critério de gênero promovida pelo universalismo das políticas públicas relacionadas, o fato de mulheres e meninas negras estarem situadas em pelo menos, dois grupos subordinados que, frequentemente, perseguem agendas contraditórias, dando impressão de que todas as violências policiais dilatadas para o sistema penal são contra homens negros. Todas as violências domésticas dilatadas para o encarceramento feminino ou feminicídio são impostas às mulheres brancas. Destarte, as mulheres negras sucumbem aos ativismos comunitários voltados menos para si, enovelados pelo padrão moderno onde suas identidades são revertidas às de mães solteiras, chefas de famílias desestruturadas, “mulheres da paz” efetivas no resgate de jovens criminosos.

Pesa-se quase que exclusivamente sobre a população negra, indígena e pobre, falando de Brasil e com respeito às universalizações de gênero e raça problematizadas por esta autora: é o racismo presente nas abordagens policiais violentas e institucionalizado na formação dos agentes, a estigmatização das mulheres negras como aquelas que não sabem educar seus filhos que sucumbem às drogas, não se pensar em formas de atendimento no sistema de saúde pública que contemplem a realidade destes grupos sociais (ou quando se pensa é no sentido de estigmatizar ainda mais), não perceber que todo o sistema carcerário do país é um reflexo do passado colonialista e escravista brasileiro, desconhecer que os mecanismos legais existentes no país de violência contra a mulher não contempla a realidade de mulheres negras e que determinados protocolos de atendimento à estas mulheres agredidas em órgãos públicos tendem a ser universais, e baseado na experiência de mulheres brancas agredidas (o que pode provocar subnotificações de registros de agressões, sem contar nas mortes), apenas para citar alguns exemplos descritos no livro desta ativista social e intelectual negra brasileira.

Com base no conceito de agnotologia descrito neste artigo e com as postulações contidas no livro O que é Interseccionalidade?33, a consequência agnotológica desta visão e formulação de políticas públicas brasileiras, ao não se pensar de modo interdependente gênero - etnia e raça - classe social, é a total individualização e culpabilização dos sujeitos. De modo que se pode afirmar que esta cegueira agnotológica é deliberada e promovida pelo estado brasileiro. Também é pertinente mencionar que as ponderações contidas neste livro podem ser conectadas com a biografia de Guadalupe Zapata34: é a invisibilização operada pelo classismo, sexismo e racismo que fizeram com que uma mulher colombiana, negra e mãe solteira, não tivesse sua história reconhecida na fundação da cidade de Pereira durante mais de cem anos. Promove-se um discurso universalizador e deliberadamente agnotológico. Não se permite representar, por fim, pessoas negras em outros tantos lugares que não sejam apenas de estatísticas oficiais de violências.

Destarte, em face das breves ponderações realizadas nesta seção, se coloca uma questão: que possibilidades outras se têm de democratizar o conhecimento produzido, partindo de produções epistemológicas disruptivas latinoamericanas?


3. Ladinoamefricanidade e sua potência política: possibilidades de democratizar o conhecimento produzido

Ao apresentar seu texto em um evento científico das ciências humanas na década de 1980, a historiadora, filósofa e militante feminista negra brasileira Lélia Gonzáles35 subverteu o modo como se apresenta um trabalho acadêmico/científico, valendo-se de uma linguagem corriqueira/coloquial utilizada pela população negra brasileira da época; linguagem esta culturalmente fundamentada em um sistema de comunicação completamente africano. Embora esta autora gozasse de reconhecimento por seus pares e movimentos sociais aos quais participou36, vivenciou os estigmas do racismo e sexismo estrutural da cultura brasileira simplesmente por ser uma mulher negra. De fato, esta militante e intelectual destacou em seus textos os limites impostos à sujeitos que não se sentem representados pela forma como contam sua história, o que fez com que ela reivindicasse o seu lugar de fala dentro da produção do conhecimento.

Lembrando aqui que lugar de fala nada têm relação com quem pode ou não falar simplesmente, mas fundamentalmente com localizar-se dentro de uma epistême, um lócus, para daí se tecer uma crítica disruptiva frente a sistemas de opressões racistas, sexistas, coloniais, acadêmicos e culturais, como pontua a filósofa e ativista negra brasileira Djamila Ribeiro37 em seu livro que despertou inúmeras controvérsias, tanto de setores da academia brasileira quanto de movimentos negros e demais movimentos sociais, com relação a discussão deste conceito, que não tem uma origem/surgimento únicos.

Ademais, também deve ser levado em consideração, ao se pensar este lugar de fala epistemologicamente, elementos da ancestralidade e religiosidade com raízes em África, especialmente no que diz respeito à oralidade do repasse de conhecimentos (tão diferente da sistematização ocidentalizada de se pensar um conhecimento) e da coletividade perceptível nos espaços sagrados de religiões de matriz africana, para exemplificar. Feito este alerta, segue-se a discussão pensada por Gonzáles38 (grifos nossos).

O fato é que, enquanto mulher negra, sentimos a necessidade de aprofundar nessa reflexão, ao invés de continuarmos na reprodução e repetição dos modelos que nos eram oferecidos pelo esforço de investigação das ciências sociais. Os textos só nos falavam da mulher negra numa perspectiva sócioeconômica que elucidava uma série de problemas propostos pelas relações raciais. Mas ficava (e ficará) sempre um resto que desafiava as explicações. E isso começou a nos incomodar. Exatamente a partir das noções de mulata, doméstica e mãe preta que estavam ali, nos martelando com sua insistência... [...] E o risco que assumimos aqui é o do ato de falar com todas as implicações. Exatamente porque temos sido falados, infantilizados (infans, é aquele que não tem fala própria, é a criança que se fala na terceira pessoa, porque falada pelos adultos), que neste trabalho assumimos nossa própria fala. Ou seja, o lixo vai falar, e numa boa.

Os incômodos aos quais esta autora sabiamente esmiuçou em seu texto, partindo primeiramente de elementos lacanianos, mas reinterpretando-os com uma linguagem crítica à ideia de que a formação societal brasileira é pautada na democracia entre as diversas etnias que compõe o que hoje chamamos de Brasil, dizem respeito aos estigmas imputados às mulheres negras. Seja aquela que, durante as festividades do carnaval brasileiro é a figura mais exaltada enquanto que durante seu cotidiano é a que não tem boa aparência e, por isso, não está apta para estar em público em determinadas funções; a negra que só serve para os serviços da casa, como se fosse uma mãe em todos os estereótipos possíveis/imagináveis; ou ainda a que só serve para sexo, deixando a afetividade, a troca equitativa para a outra: a mulher branca. Restando para as mulheres negras o silêncio, a dor, a invisibilidade afetiva.

É importante e honesto dizer que embora esta análise deva ser pensada no tempo e momento histórico em que Gonzáles39 (1984) o fez, é possível pensar em aproximações além-Brasil, ao mesmo tempo em que se verifica que muitas de suas postulações acerca das violências imputadas às mulheres negras brasileiras seguem, infelizmente, ocorrendo em massa.

Neste sentido, a canção de salsa colombiana La Rebelión40, ançada na metade dos anos de 1980, é um exemplo interessante para o que se discute nesta seção. Ao se valer de um ritmo ao qual comumente/erroneamente pode ser associado somente a sensualidade e alegria, tal como visto em algumas vertentes do samba brasileiro, porém narrando uma história do século XVII que problematiza a violência da escravização em terras da hoje Colômbia, especialmente no que diz respeito às mulheres negras, a canção (grifos nossos)41 evidencia o racismo e sexismo imputado às mulheres negras não somente da época em que a canção se refere, mas também ao tempo histórico em que a mesma foi gravada, apresentando ao povo colombiano uma memória e consciência coletiva afrocolombiana.

Nos anos de mil e seiscentos / quando o tirano mandou / Nas ruas de Cartagena /Aquela história passou / Quando ali chegavam esses negreiros [navios] / africanos em cadeias / beijavam minha terra / escravidão perpétua [...] / Um matrimônio africano / escravos de um espanhol / ele os maltratava muito / e a sua negra ele [o espanhol] a tomou / E foi ali / se revelou o belo negro / tomou vingança por seu amor e ainda se ouve / das grades [da prisão] / não tome a minha negra [...] / Escute homem! / Não tome a negra [...]

Pela linguagem simples empregada na canção La Rebelión e pela rítmica da salsa (que também tem suas influências em ritmos de África), se evidencia um passado e presente que estão, todavia, imputados em ser uma mulher negra, conforme Gonzáles42 esmiuçou em seu texto, também na década de 1980.

Em outro texto de Gonzáles43, propositalmente a autora brasileira trocou as letras dos termos latino e americanidade na criação de seu termo/conceito amefricanidade e ladinoamefricanidade, para destacar o que chama de racismo disfarçado/sutil existente no Brasil e em alguns países do continente latinoamericano, em contraste com a manifestação do racismo na sociedade estadunidense. Ao trocar as letras t pelo d da palavra latino, a autora assume uma postura crítica frente ao processo de colonização dos povos que viviam na América Latina antes da chegada de europeus, espanhóis, franceses, ingleses e holandeses. Do mesmo modo, ao criar o termo amefricano, Lélia criticiza o processo cultural de construção de identidades/subjetividades coletivas de negros e negras que hoje fazem parte da composição étnica/racial deste continente, e que em muitos casos ainda fazem parte de uma massa de sujeitos excluídos de acesso a condições dignas de existência/subsistência. Emergir a ladinoamefricanidade, conforme a autora, remete a evidenciar discriminações estruturantes que enaltece a branquitude latinoamericana como uma categoria positiva e a não branquitude como um opositor negativo de cultura, identidades e subjetividades. Ou seja, este conceito é uma potência política epistemológica para destacar quem somos, a partir de nossas próprias contradições, violências diferenças, resistências e existências.

Deste modo, o amefricano e ladinoamefricano, resgata a história e cultura não somente dos povos que foram forçados a vir para este continente americano e os que já estavam no continente, mas ressignifica a identidade destes povos para além da hegemonia anglo-saxã e latina dominantes, emancipando os sujeitos que comumente tendem a valorizar somente aspectos destas duas culturas hegemônicas, o que é comum ao se pensar em pessoas brancas latinoamericanas. Evidencia-se ao mesmo tempo para Gonzáles44, as práticas racistas (e mesmo sexistas) societais incorporadas no continente latinoamericano.

É interessante observar que, embora se parta de matrizes epistemológicas diferentes, escopos analíticos completamente variados e haja uma certa temporalidade entre os textos, se busca o esforço em estabelecer correlações entre o que Gonzáles45 e Proctor46 entendem por universalizações dos sujeitos e do conhecimento como prejudicial à formação de uma sociedade mais plural e democrática de fato, ou melhor dizendo: criticizando um modo único de se contar uma história, pois a partir deste viés uno se utiliza justificativas ideológicas para promover violências diversas a determinados grupos sociais. Do mesmo modo, também se perfaz este esforço aqui em estabelecer diálogo com a política das tecnologias e dos artefatos produzidos que influenciam diretamente a vida e morte de determinados grupos sociais, base esta formada a partir das colocações de Winner47 e também por Schiebinger48, ao falar de inovações gendradas para a ciência e tecnologia, oferecendo possibilidades de se mudar a ciência em si.

Para Gonzáles49 importa primeiro olhar para si mesma (enquanto sujeito/mulher negra e brasileira) e, de dentro deste olhar, criticizar as representações universalizantes produzidas sobre o povo brasileiro, demonstrando, assim, a própria ciência da ignorância oficial ao se tentar apagar a todo instante este passado doloroso de escravização oficial do Brasil e que, todavia, influencia em diversos indicadores sociais, econômicos e culturais, alguns destes trazidos na introdução deste artigo. Desta forma, Varela50 pode ter olhado para si mesmo, enquanto homem, historiador, cidadão colombiano e pereirano, para evidenciar num segundo momento, academicamente, a invisibilização encampada nos registros oficiais de uma importante cidadã pioneira afrocolombiana e solteira. Evidenciar a invisibilização sofrida por Guadalupe Zapata obriga, conforme o historiador colombiano, a questionar de fato quem é elegível a ser um cidadão de Pereira.

É possível dizer que, tanto a criadora do conceito de ladinoamefricanidade quanto o historiador que ecoou a voz de Guadalupe Zapata, perfizeram um exercício dialógico, a partir da materialidade das condições/opressões sofridas pela população negra e, especialmente, de mulheres negras. A linguagem coloquial adotada no primeiro texto de Gonzáles51 é um exemplo dialógico/material vindo da cultura ladinoamefricana e, ao mesmo tempo, uma possibilidade tecnológica política52 de democratizar/ressignificar o conhecimento produzido, demonstrando assim a ignorância da ciência e a ciência da ignorância53.

Ademais, quando se pensa na ladinoamefricanidade como potência política também acadêmica, é fundamental lembrar a problemática inicial que norteou todo este artigo: quem ou que grupos sociais, ao ignorar questões de gênero e etnia/raça, enquanto pensar o conhecimento produzido nas universidades e formação de futuros acadêmicos, contribuem para não só perpetuar a ignorância da ciência disfarçada pela neutralidade, imparcialidade e objetividade, mas também para não permitir que certos sujeitos adentrem nestes espaços?

Todavia a investigação está em processo de desvelamento de certas agnotologias involucradas no pensar o conhecimento, mas é certo dizer que enquanto se pensar o conhecimento produzido, especialmente na universidade, bem como formar os futuros profissionais/docentes/pesquisadores com uma visão de que a ciência é a única verdade libertadora, objetiva e neutra, desconsiderando outros tipos de saberes, as disputas político/ideológicas que imperam nos laboratórios, artigos publicados, eventos científicos e, por fim, ao considerar natural que determinadas carreiras tenha pouca presença de determinados grupos sociais tão representativos à sociedade, continuaremos a reproduzir uma visão limitada e agnotológica do conhecimento.

Oferece-se aqui a ladinoamefricanidade como um instrumento epistemológico político para pensar e produzir outros modos de ciências mais respeitosos e acolhedores às diferenças. Que sejam situados54, democráticos, combativos a todo conhecimento que objetive prevalecer lógicas opressoras e únicas visões de mundo e de saberes, sabendo que a matriz ainda é colonialista, masculina e racialmente branca. A ladinoamefricanidade permite que a ciência e a tecnologia possam questionarem-se a si mesmas.

É bom e honesto lembrar que este olhar e questionar científico em si mesmo, sempre partindo, reverenciando e respeitando as experiências ancestrais desta Améfrica Ladina55 multifacetada e complexa, tal como a canção de salsa colombiana La Rebelión, passou mais do que do momento de nos rebelarmos enquanto cientistas e instituição acadêmica, repensando o significado e sentido de uma universidade em um continente com inúmeros cientistas, por vezes tão distante da sociedade e de grupos sociais mais vulneráveis em razão da sua linguagem complicada e por vezes inacessível, pouco valorada em determinados ciclos acadêmicos nacionais e principalmente europeus/estadunidenses, que ainda ditam como deve ser o conhecimento, a ciência e tecnologia.

Cabe lembrar que cientistas recebem cada vez menos incentivos do Estado para desenvolver artefatos, métodos, técnicas, teorias, processos e procedimentos, porém em contrapartida necessitam manter alto o seu nível de publicações56 para serem respeitados e valorizados no ambiente acadêmico. Muitos ainda acham que determinadas áreas e pesquisas são ciências e outras não e em razão disto, se promove discussões completamente sem sentido, preconceituosas, ideológicas, disfarçadas do discurso de neutralidade e, por fim, instrumentalistas do conhecimento. Que desprezam muitos cientistas regionais/nacionais, somente para adentrar em ciclos nos quais se valoriza mais uma citação dos intelectuais de fora em suas publicações do que de pesquisadores nacionais57. Sendo assim, resta ainda o questionamento: afinal, até quando será promovida as ignorâncias das ciências a partir da ciência da ignorância?


4. Agradecimentos e palavras finais

Tanto em território brasileiro quanto em território colombiano foram realizadas entrevistas com docentes dos programas de pós-graduação em engenharias e humanidades. Ademais, o diário de campo foi utilizado como referencial importante de interações/observações realizadas durante o tempo de estágio doutoral na Colômbia (01 de outubro de 2018 a 30 de setembro de 2019), obviamente respeitando as especificidades, história e particularidades deste país tão distante e ao mesmo tempo tão parecido ao Brasil, inclusive no que diz respeito às diferentes violências que grupos sociais sofrem e/ou sofreram, inclusive na universidade.

Registra-se assim o agradecimento sincero a este povo colombiano que tão bem recebeu a proposta desta pesquisa de doutoramento que está em andamento desde 2017, especialmente no que diz respeito à receber pessoalmente o primeiro autor deste artigo durante sua incursão nos espaços do trabalho de campo: cidadão brasileiro negro, de origem pobre, professor de carreiras técnicas, homossexual, e que se vale dos conceitos postos neste artigo, especialmente da ladinoamefricanidade, para posicionar-se enquanto sujeito, localizar-se epistemicamente, buscar reflexões democráticas e que, ao mesmo tempo, desvelem as agnotologias perceptíveis em um ambiente universitário que aparentemente é plural, mas que infelizmente não se questiona porque grupos tão representativos à sociedade brasileira e colombiana (mulheres, pessoas negras, pessoas LGBTIQ+ e pessoas indígenas) não estão em determinadas carreiras universitárias, e porque ainda determinadas carreiras todavia são naturalizadas e/ou vistas como masculinas ou femininas.




* Este documento respeta las directrices y normas dispuestas en la Declaración de Ética de Publicación de Ciencia Nueva, Revista de Historia y Política. Esta declaración puede consultarse en la página web de la revista: http://revistas.utp.edu.co/index.php/historia


* Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia e Sociedade (PPGTE) da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), e Mestre pelo PPGTE. Bacharel em Turismo pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). Especialista em Neuropsicologia e Educação pelas Faculdades Itecne de Cascavel. Experiência docente em escolas técnicas profissionalizantes de Curitiba/PR desde 2009. Atualmente é bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Capes, realizando estágio de doutoramento na Universidad Nacional de Colombia – Sede Bogotá (EDITAL 47/2017 – Capes), compreendendo o período de outubro de 2018 a setembro de 2019.


** Pós-Doutora em Estudos Interdisciplinares Sobre Mulheres, Gênero e Feminismos pela Universidade Federal da Bahia (UFBA); Doutora e Mestra em Tecnologia pelo PPGTE/ UTFPR. Faz parte da equipe de coordenação do GeTec e da revista científica Cadernos de Gênero e Tecnologia.


1 Rubem Alves, Filosofia da ciência: introdução ao jogo e suas regras (São Paulo: Loyola, 2002); Jürgen Habermas, «Técnica e ciência enquanto ideologia» em Os pensadores, tradução de Artur Morão (São Paulo: Abril Cultural, 1975), 303-333; Thomas Samuel Kuhn, A estrutura das revoluções científicas, tradução de Beatriz Vianna Boeira e Nelson Boeira (São Paulo: Perspectiva, 9ª Ed. 2006).


2 Carla Giovana Cabral, «Pelas telas, pela janela: o conhecimento dialogicamente situado». Cadernos Pagu 27, (2006): 63-97; Donna Haraway, «Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da perspectiva parcial». Tradução de Mariza Corrêa. Cadernos Pagu 05, (1995): 7-41; Londa Schiebinger, «Expandindo o kit de ferramentas agnotológicas: métodos de análise de sexo e gênero» Tradução de Cecília Maria Bacellar Sardenberg. Revista Feminismos 03, (2014): 85-103; Londa Schiebinger, O feminismo mudou a ciência? Tradução de Raul Fiker (São Paulo: Bauru EDUSC, 2001); Luz Gabriela Arango Gaviria, Jóvenes en la universidad: género, clase e identidad profesional (Bogotá: Siglo del Hombre Editores; Universidad Nacional de Colombia, 2006a); Michel Alves Ferreira, «Para além das métricas: produção científica de docentes no contexto de dois programas de pós-graduação da UTFPR e questões de gênero» (dissertação, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, 2017), 123, http://repositorio.utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/2609/1/CT_PPGTE_M_Ferreira%2C%20Michel%20Alves_2017.pdf


3 No Brasil, do total de trabalhadores formais, as mulheres perfazem 18,8% do total de trabalhadores com curso superior completo, contra 11% do total de homens trabalhadores, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílio (PNAD), realizada em 2014. Em termos de Colômbia, embora seja visível que as mulheres sejam a maioria de estudantes no ensino superior colombiano (entre 2001 a 2017, elas representaram 54,97% do total de estudantes formados no país, contra 45,03% de estudantes formados homens), em números absolutos elas tem mais dificuldades em conseguir trabalho formal em determinadas áreas, conforme o Departamento Administrativo Nacional de Estadística (DANE), Ministerio de Educación Nacional e tese doutoral realizada por Maria Eugenia Correa Olarte (2005), uma vez que a maioria dos trabalhadores formais em todos os setores, na Colombia, são homens. Soma-se ao fato de que, ainda falando sobre a Colombia, o sistema de ensino superior do país, mesmo público, deve ser subsidiado pelas famílias ou pelos próprios estudantes, através do pagamento de quotas, fato que não ocorre no ensino superior público brasileiro. Fontes: «mulheres são a maioria em universidades e cursos de pós graduação», Brasil, acesso em 19 de julho de 2019, http://www.brasil.gov.br/economia-eemprego/2016/03/mulheres-sao-maioria-em-universidades-e-cursos-de-qualificacao; «tabelas completas», Síntese de indicadores 2014, acesso em 20 de maio de 2019, https://ww2.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/trabalhoerendimento/pnad2014/sintese_defaultxls.shtm; «Compendio Estadístico de la Educación Superior Colombiana»Compendio Estadístico de la Educación Superior Colombiana», Ministerio de Educación Nacional, acesso em 03 de maio de 2019, https://www.mineducacion.gov.co/1759/articles-360739_recurso.pdf; Maria Eugenia Correa Eularte, «La feminización de la educación superior y las implicaciones en el mercado laboral y los centros de decisión politica» (tese, Universidad Externado de Colombia, 2005), 636, https://www.mineducacion.gov.co/cvn/1665/articles-92159_archivo_pdf.pdf; «Estadísticas por tema mercado laboral» Dane, acesso em 02 de abril de 2019, https://www.dane.gov.co/index.php/estadisticas-portema/mercado-laboral.


4 Em termos de Colômbia, merece destaque o trabalho da pesquisadora colombiana Luz Gabriela Arango Gaviria, ao problematizar as dificuldades de mulheres na educação superior em áreas CTEM e, por conseguinte, estendendo-se ao mercado de trabalho. Também o trabalho de Lya Yanneth Fuentes Vázques, ao defender uma maior equidade para mulheres no ensino superior colombiano, especialmente em campos do conhecimento tradicionalmente masculinos. Ou, ainda, tendo como referência dados do Ministério da Educação Nacional colombiano, onde entre 2010 e 2017 apenas 29% do total de doutores em engenharia, arquitetura, urbanismo e áreas correlatas eram mulheres. Fontes: Lindamir Salete Casagrande, Silenciadas e invisíveis: relações de gênero no cotidiano das aulas de matemática. (Curitiba: Editora CR7, 2017); Lindamir Salete Casagrande e Ângela Maria Freire de Lima e Souza, «Violência simbólica de gênero em duas Universidades Brasileiras» em Violência, gênero e diversidade: Desafios para a educação e o desenvolvimento, organizado por Clóvis Wanzinack e Marcos Claudio Signorelli (Rio de Janeiro: Autografia, 2015) 79-108; Lindamir Salete Casagrande e Ângela Maria Freire de Lima e Souza, «Para além do gênero: mulheres e homens em engenharias e licenciaturas». Revista de estudos feministas 03, (2016a): 825-850; Lindamir Salete Casagrande e Ângela Maria Freire de Lima e Souza, «Quem faz engenharia e licenciatura na UTFPR? Análise sob a perspectiva de gênero» em Entrelaçando gênero e diversidade: matizes da divisão sexual do trabalho, organizado por Lindamir Salete Casagrande e Nanci Stancki da Luz (Curitiba: Editora UTFPR, 2016b) 123-168; Lindamir Salete Casagrande e Ângela Maria Freire de Lima e Souza, «Percorrendo labirintos: trajetórias e desafios de estudantes de engenharias e licenciaturas». Cadernos de pesquisa 163, (2017): 168-200. Fabiane Ferreira da Silva e Paula Regina Costa Ribeiro «Trajetória de cientistas na ciência: “ser cientista” e “ser mulher”». Ciênc. Educ. 02, (2014): 449-466; Betina Stefanello Lima «O labirinto de cristal: as trajetórias das cientistas na física». Revista de Estudos Feministas 03, (2013): 883-903; Maria Rosa Lombardi «“Por que são tão poucas?”: um estado da arte dos estudos de engenharia e gênero». Textos FCC 02 (2016): 1-48; Luz Gabriela Arango, Jóvenes en la universidad: género, clase e identidad profesional (Bogotá: Siglo del Hombre Editores; Universidad Nacional de Colombia, 2006a); Luz Gabriela Arango Gaviria «Género e ingeniería: la identidad profesional en discusión». Revista Colombiana de Antropología 42 (2006b): 129-156; Lya Yanneth Fuentes Vázquez «¿Por qué se requieren políticas de equidad de género en la educación superior?». Revista Nómadas 44 (2016): 6583; «Sistema Nacional de Información de la Educación Superior» Ministerio de Educación Nacional, acesso em 03 de maio de 2019, https://www.mineducacion.gov.co/sistemasinfo/Informacion-a-lamano/212400:Estadisticas


5 É possível constatar a partir de análise em documentos oficiais consultados dos Ministério da Educação brasileiro e Ministerio de la Educación Nacional colombiano, a baixa presença de mulheres nas áreas CTEM. É importante destacar que os documentos consultados não especificam em que carreiras estão as mulheres indígenas e afro, tanto no Brasil quanto na Colômbia. Estes dados, se publicizados, seriam pertinentes para fomentar discussões acerca de dificuldades enfrentadas no exercício acadêmico, acesso, permanência, rendimento, abandono e como questões econômicas, sociais, geracionais, de segurança, são determinantes para que mulheres autodeclaradas não brancas consigam efetivamente concluir suas carreiras. Ou seja: urge um olhar interseccional dos governos para estas questões ao se pensar em elaborar métricas do ensino superior, uma vez que são inúmeros os marcadores postos a estes grupos sociais. Fontes: «Sinopses estatísticas da educação superior - graduação» INEP, acesso em 02 de maio de 2019, http://portal.inep.gov.br/web/guest/sinopsesestatisticas-da-educacao-superior; «Compendio Estadístico de la Educación Superior Colombiana» Compendio Estadístico de la Educación Superior Colombiana», Ministerio de Educación Nacional, acesso em 03 de maio de 2019, https://www.mineducacion.gov.co/1759/articles-360739_recurso.pdf


6 Lubi Angulo Granada «Mujeres afrodescendientes y educación superior en Colombia: Una aproximación a sus antecedentes». Revista de investigación miradas 1 (2018): 187-203; Michel Alves Ferreira, Glacielli Thaiz Souza de Oliveira e Lindamir Salete Casagrande «Negras e negros na pós-graduação da UTFPR: onde estão». (13º Congresso mundos de mulheres & seminário internacional fazendo gênero 11 – transformações, conexões, deslocamentos, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 01 de agosto de 2017), acesso em 13 de maio de 2019, http://www.wwc2017.eventos.dype.com.br/resources/anais/1497033075_ARQUIVO_negras_e_negros_na_pos_graduacao_versao_final.pdf; Tania Perez-Bustos e Andrea García-Becerra «Situating women scientists with non-normative gender positions in the Colombian national system of science and technology». Acta Colombiana de Psicología, 16 (2013): 47-54.


7 Lésbicas, gays, bissexuais, pessoas trans (travestis, transexuais e transgêneros), intersexuais, pessoas queer e outras formas de ser/sentir/viver não contempladas nas letras dispostas.


8 Abdias Nascimento, O genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo mascarado (Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1978); Carla Akotirene, O que é interseccionalidade? (Belo Horizonte: Letramento. Justificando, 2018); Djamila Ribeiro, O que é lugar de fala? (Belo Horizonte: Letramento; Justificando, 2017); Jessé Souza, A elite do atraso: da escravidão à lava jato (Rio de Janeiro, Leya, 2017). Megg Rayara Gomes de Oliveira «O diabo em forma de gente: (r) existências de gays afeminados, viados e bichas pretas na educação» (tese, Universidade Federal do Paraná, 2017) 190, https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/47605/R%20-%20T%20%20MEGG%20RAYARA%20GOMES%20DE%20OLIVEIRA.pdf?sequence=1&isAllowed=y.


9 Mariana Tokarnia «Negros representam 28,9% dos alunos da pós-graduação». EBC Agência Brasil, 13 de maio de 2015, acesso em 12 de junho de 2019, http://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/201505/negros-representam-289-dos-alunos-da-pos-graduacao.


10 Cabe dizer aqui que reificação está evocado neste texto no sentido filosófico da palavra: como a redução de nossas epistemologias, saberes, culturas, conhecimentos produzidos na América Latina pela lógica imposta pelo saber colonizador, europeu, racialmente branco, ignora nossa própria identidade, subjetividade, e intersubjetividade enquanto povos latinoamericanos, dificultando ainda mais para pensadores subalternizados nesta lógica reificadora serem visibilizados, acessados, discutidos amplamente.


11 Se trata de uma tese de doutoramento do primeiro autor deste artigo, com previsão de defesa para o ano de 2021. O estudo busca estabelecer aproximações e diferenças entre pensar/produzir o conhecimento em programas de pós-graduação de engenharias e humanidades/educação de duas universidades tecnológicas (uma brasileira e outra colombiana) e, como questões de gênero e raça afetam diretamente este lugar do docente, estudante e a própria universidade, no pensamento científico/tecnológico produzido, publicado e reproduzido e, por fim, na formação de novos docentes universitários. Para este trabalho em específico, são discutidos criticamente alguns dos marcos teóricos a serem utilizados na tese de doutoramento. Assim, é fundamental registrar o agradecimento à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e ao Ministério da Educação do Brasil pelo financiamento da pesquisa desde 2016 (ainda no mestrado), especialmente ao financiamento durante o estágio de doutoramento no exterior (Edital 47/2017 - PDSE/CAPES), à antropóloga e professora doutora colombiana Tania Pérez-Bustos e à Escuela de Estudios de Género da Universidad Nacional de Colombia – Sede Bogotá, em auxiliar para a viabilização deste trabalho e, finalmente, à Universidad Tecnológica de Pereira pela acolhida e colaboração com este estudo.


12 Conforme Jornal Grande Bahia, «Salvador é a capital mais negra do Brasil e também onde está maior desigualdade salarial entre brancos e pretos». Jornal Grande Bahia, 21 de novembro de 2018, acesso em 27 de maio de 2019, http://www.jornalgrandebahia.com.br/2018/11/salvador-e-a-capital-mais-negra-do-brasil-etambem-onde-esta-maior-desigualdade-salarial-entre-brancos-e-pretos/; Carta Capital, «Salvador é a meca negra: todo negro precisa ir pelo menos uma vez», Carta Capital, 21 de dezembro de 2018, acesso em 27 de maio de 2019, https://www.cartacapital.com.br/blogs/guia-negro/salvador-e-a-meca-negra-todo-negro-precisair-pelo-menos-uma-vez/.


13 Conforme Huffpost Brasil, «Donata Meirelles, da Vogue, faz festa de 50 anos e é criticada por 'temática racista'». Huffpost, 09 de fevereiro de 2019, acesso em 27 de maio de 2019, https://www.huffpostbrasil.com/entry/donata-meireles-festa-racismo_br_5c5f242ee4b0eec79b23f2a8.


14 Escreve-se o nome desta religião em maiúsculo, em sinal de respeito e honra àquelas e aqueles que servem e serviram de existência/resistência contra séculos de opressão colonialista, ocidental e de gênero; é a ancestralidade, materializada pela cultura, linguagem, tecnologias e tradições, que unem os povos de África e América Latina, ainda que separados geograficamente. Ademais, serve como contraponto de resistência também à normatividade imposta pela tradição judaico/cristã, de se escrever somente estas religiões de origens monoteístas em letra maiúscula no português e espanhol, desprezando outros modos de se pensar um religare da natureza, do sujeito, do metafísico, do divino e da divina, tão presente também em outras manifestações religiosas, especialmente neste continente latino americano, de onde este texto é produzido e compartilhado.


15 Conforme Correio Brasiliense, «Após festa polêmica, Donata Meirelles pede demissão da Vogue Brasil». Correio Brasiliense, 13 de fevereiro de 2019, acesso em 27 de maio de 2019, https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-earte/2019/02/13/interna_diversao_arte,737389/apos-festa-polemica-donata-meirelles-pede-demissao-davogue-brasil.shtml.


16 Robert N. Proctor, «Agnotology: a missing term to describe the cultural production of ignorance (and Its Study)» em Agnotology: the making and unmaking of ignorance, organizado por Robert N. Proctor e Londa Schiebinger (Palo Alto: Stanford University Press, 2008) 01-33.


17 Vogue é uma composição de Madonna e Shep Pettibone, de onde a frase strike a pose (faça uma pose) foi retirada, se tratando de uma clara ironia dos autores deste artigo à imagem problematizada da ex diretora da Vogue Brasil. Esta canção teve suas inspirações em danças/performances (ballrooms) de comunidades afro estadunidenses durante os anos 1960 e, mais tarde, também latinas, dos bairros mais pobres e estigmatizados da cidade de Nova Iorque, se transformando em um espaço de existências e resistências, principalmente da comunidade LGBTIQ+. O voguing ou vogue (nome inspirado na revista Vogue) consiste em realizar performances individuais ou grupais, onde quem faz as melhores apresentações (mediante jurados e público) ganha um prêmio. A canção Vogue, assim como o documentário Paris is Burning e, mais recentemente, o reality show Ru Paul’s Drag Race, possibilitaram que a cultura do voguing se tornasse conhecida mundialmente, apesar de que boa parte de seu sentido de expressão, protesto, resistência e visibilidade destas comunidades tenha se perdido com o tempo. Boa parte disso se deve a apropriação desta cultura urbana periférica pela indústria da moda e entretenimento, descaracterizando seu sentido original em favor do lucro, tal como o exemplo relatado neste artigo com respeito à festa da ex diretora da Vogue Brasil, caricaturando/violentando simbolicamente aspectos tão particulares de uma história e cultura negra brasileira para benefício próprio, ainda que de modo não intencional.


18 Proctor, Agnotology…, 3. Texto original: “The point is to question the naturalness of ignorance, its causes and its distribution”.


19 Langdon Winner «Do Artifacts Have Politics?». Daedalus, 109 (1980): 121-136


20 Conforme Carolina Scorce, «Bairro da liberdade concentrava espaços de tortura e morte contra os negros na escravidão». Carta Capital, 03 de janeiro de 2018, acesso em 27 de maio de 2019, https://www.cartacapital.com.br/educacaoentrevistas/liberdade-concentrava-forca-o-pelourinho-cadeia-e-ocemiterio-dos-negros-na-escravidao/.


21 Alexander Cuervo Varela «Mujer, subordinación y poder; Guadalupe Zapata y la narrativa historica de Pereira». (dissertação, Universidad Tecnológica de Pereira, 2016) 214, http://repositorio.utp.edu.co/dspace/bitstream/handle/11059/7161/809933522C965.pdf?sequence=1&isAllowed=y.


22 Ver Carlos Alfonso Victoria, «Guadalupe Zapata: la negra grande de Pereira». Las 2 Orillas, 14 de outubro de 2013, acesso em 02 de junho de 2019, https://www.las2orillas.co/guadalupe-zapata-la-negra-grande-depereira/


23 Ver Alcadía de Pereira, «Información del municipio». Alcadía de Pereira, acesso em 02 de junho de 2019, http://www.pereira.gov.co/MiMunicipio/Paginas/Informacion-del-Municipio.aspx.


24 Conforme Proctor, Agnotology…,2008.


25 Não somente símbolos, mas diversos documentos do período de escravização foram destruídos já nos primeiros anos da recém república brasileira, de acordo com o jornal O Estado de São Paulo, em matéria veiculada em 2015. Acervo, «A destruição dos documentos sobre a escravidão». O Estado de São Paulo, 14 de dezembro de 2015, acesso em o3 de junho de 2019, https://acervo.estadao.com.br/noticias/acervo,a-destruicaodos-documentos-sobre-a-escravidao,11840,0.htm.


26 Como exemplo de apagamento e descontextualização mais recentes do bairro paulistano da Liberdade, no ano de 2018 o governo do estado de São Paulo acrescentou a palavra Japão no nome da Praça da Liberdade e, também, da estação de metrô Liberdade. Claramente, além de desprezar outras etnias que se estabeleceram no bairro, privilegiando somente a japonesa, se descontextualiza mais uma vez a história daquelas pessoas negras que morreram ali. Ademais, se desrespeita o simbolismo da palavra liberdade da praça e do bairro, remetente ao enforcamento de um soldado negro no ano de 1821: o Chaguinhas. Juliana Domingos de Lima, «A mudança de nome da praça da Liberdade. E a memória negra em São Paulo». Nexo, 07 de agosto de 2018, acesso em 02 de junho de 2019, https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/08/07/A-mudan%C3%A7a-de-nome-daPra%C3%A7a-da-Liberdade.-E-a-mem%C3%B3ria-negra-em-S%C3%A3o-Paulo.


27 Conforme Winner, Do Artifacts...1980.


28 Proctor, Agnotology…, 26. Texto original: “Crucial also is: ignorance for whom? And against whom? Ignorance has a history and is always unevenly distributed; the geography of ignorance has mountains and valleys Who is ignorant and why, and to what extent? How can we develop better agnometric indicators? What keeps ignorance in one place, while it evaporates in some other? And which among our myriad ignorances will be tolerated or combated? Many of these same questions can be asked about knowledge since, like ignorance, it occupies space and takes us down one path rather than another. Knowledge, too, has a face, a house, and a price-there are people attached, institutions setting limits, and costs in the form of monies or opportunities lost. Decisions of what kind of knowledge "we" want to support are also decisions about what kinds of ignorance should remain in place”.


29 Londa Schiebinger, O feminismo mudou a ciência? Tradução de Raul Fiker (Bauru: EDUSC, 2001); Londa Schiebinger, «Expandindo o kit de ferramentas agnotológicas: métodos de análise de sexo e gênero». Revista Feminismos, 03 (2014): 85-103.


30 Schiebinger, Expandindo..., 91-93.


31 Schiebinger, Expandindo..., 100.


32 Akotirene, O que é interseccionalidade..., 55.


33 Akotirene, O que é interseccionalidade?..., 2018.


34 Conforme dissertação de Varela, Mujer…., 2016.


35 Lélia Gonzáles, «Racismo e sexismo na cultura brasileira». Revista Estudos Sociais Hoje, (1984): 223-244.


36 A bibliotecária e mestra em tecnologia e sociedade brasileira Patrícia Teixeira (2017), em sua dissertação acerca de uma ferramenta específica de gerenciamento de documentos/referências, apresenta como exemplo a Coleção Sobre Lélia Gonzáles (1935-1994), do Projeto Memória (Fundação Banco do Brasil), destacando a importância da ativista brasileira para o movimento negro e, especialmente, de mulheres negras. Também Teixeira (2017) discorre sobre a extensa produção de Lélia (101 documentos), a partir de textos acadêmicos, entrevistas, textos jornalísticos e outros documentos, seja de autoria da própria Lélia, bem como de outras pessoas falando sobre ela. Patrícia Teixeira, «A organização da informação em plataforma de gestão de referências, a Zotero: a coleção Lélia Gonzalez e o projeto Memória» (dissertação, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, 2017) 180, http://repositorio.utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/2737/1/CT_PPGTE_M_Teixeira%2C%20Patr%C3%ADcia_2 017.pdf


37 Ribeiro, O que é Lugar de Fala?..., 2017.


38 Gonzáles, Racismo..., 225.


39 Gonzáles, Racismo..., 1984.


40 Uma característica de muitas das canções gravadas e compostas pelo afrocolombiano Joe Arroyo (1955-2011) têm relações diretas com as vivências do cotidiano de afrocolombianos, mestiços, camponeses, pessoas que tiveram de sair de suas casas e comunidades em razão de violências, elementos muito sensíveis à história colombiana, tanto de sua formação enquanto nação, quanto de violências sentidas no campo e em centros urbanos mais recentemente. Os ritmos como salsa e cumbia, dentre outros ritmos tão populares em terras colombianas ainda hoje, são marcas principais deste cantor social, tal como percebido em La Rebelión. Jairo Solano-Alonso, «El mensaje social y existencial de Joe Arroyo». Huellas: revista de la universidad del norte, 90-91 (2012): 69-74; Mark Q. Sawyer, «Du Bois' double consciousness versus latin america exceptionalism: Joe Arroyo, salsa and negritude». (Western Political Science Association Annual Meeting, Portland Oregon, 13 de novembro de 2004), acesso em 13 de junho de 2019, https://www.sscnet.ucla.edu/polisci/faculty/sawyer/DuBois.pdf.


41 Letra original da canção: En los años mil seiscientos / cuando el tirano mandó / las calles de Cartagena / aquella historia vivió. / Cuando allí llegaban esos negreros / africanos en cadenas / besaban mi tierra / esclavitud perpetua […] / Un matrimonio africano, esclavos de un español/ Él les daba muy mal trato / y a su negra le pegó / Y fue allí / se reveló el negro guapo / tomo venganza por su amor y aún se escucha / en la verja, no le pegue a mi negra […] / Oye man! / No le pegue a la negra […]. Joe Arroyo, La Rebelión, Miami: Miami Records (3), 1999.


42 Gonzáles, Racismo..., 1984.


43 Lélia Gonzáles, (1988). «A categoria-político cultural da amefricanidade». Tempo brasileiro, 92-93, (1988): 69-82.


44 Gonzáles, A Categoria-político..., 1988.


45 Gonzáles, Racismo..., 1984; Gonzáles, A Categoria-político..., 1988.


46 Proctor, Agnotology…, 2008.


47 Winner, Do Artifacts...1980.


48 Schiebinger, Expandindo..., 87-88.


49 Gonzáles, Racismo..., 225.


50 Varela, Mujer…., 2016.


51 Gonzáles, Racismo..., 1984.


52 Winner, Do Artifacts...1980.


53 Proctor, Agnotology…, 2008.


54 Haraway, Saberes Localizados..., 1995.


55 Gonzáles, Racismo..., 1984; Gonzáles, A Categoria-político..., 1988.


56 Ferreira, Para Além..., 2017.


57 Ferreira, Para Além..., 2017.



Referências



Livros


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Alves, Rubem. Filosofia da ciência: introdução ao jogo e suas regras. São Paulo: Loyola, 2002.


Arango Gaviria, Luz G. Jóvenes en la universidad: género, clase e identidad profesional. Bogotá: Siglo del Hombre Editores; Universidad Nacional de Colombia, 2006a.


Casagrande, Lindamir S. Silenciadas e invisíveis: relações de gênero no cotidiano das aulas de matemática. Curitiba: Editora CR7, 2017.


Kuhn, Thomas S. A estrutura das revoluções científicas. Tradução de Beatriz Vianna Boeira e Nelson Boeira. São Paulo: Perspectiva, 9ª Ed., 2006.


Nascimento, Abdias. O genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo mascarado. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1978.


Ribeiro, Djamila. O que é lugar de fala? Belo Horizonte: Letramento. Justificando, 2017.


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Capítulos de livros


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_____. «Violência simbólica de gênero em duas Universidades Brasileiras» em Violência, gênero e diversidade: Desafios para a educação e o desenvolvimento. 79-108, organizado por Wanzinack, Clóvis e Signorelli, Marcos C. Rio de Janeiro: Autografia, 2015.


Habermas, Jürgen. «Técnica e ciência enquanto ideologia». In: Os pensadores. 303-333. São Paulo: Abril Cultural, 1975.


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Artigos científicos


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Apresentações em eventos científicos


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Dissertações e teses


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Ferreira, Michel A. «Para além das métricas: produção científica de docentes no contexto de dois programas de pós-graduação da UTFPR e questões de gênero». Dissertação. Universidade Tecnológica Federal do Paraná, 2017, http://repositorio.utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/2609/1/CT_PPGTE_M_Ferreira%2 C%20Michel%20Alves_2017.pdf


Oliveira, Megg R. G. de. «O diabo em forma de gente: (r) existências de gays afeminados, viados e bichas pretas na educação». Tese, Universidade Federal do Paraná, 2017, https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/47605/R%20-%20T%20-%20MEGG%20RAYARA%20GOMES%20DE%20OLIVEIRA.pdf?sequence=1&i sAllowed=y


Teixeira, Patrícia. «A organização da informação em plataforma de gestão de referências, a Zotero: a coleção Lélia Gonzalez e o projeto Memória». Dissertação, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, 2017, http://repositorio.utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/2737/1/CT_PPGTE_M_Teixeira%2C%20Patr%C3%ADcia_2017.pdf


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Sítios web e textos jornalísticos


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Huffpost Brasil, «Donata Meirelles, da Vogue, faz festa de 50 anos e é criticada por 'temática racista'». Huffpost, 09 de fevereiro de 2019, acesso em 27 de maio de 2019, https://www.huffpostbrasil.com/entry/donata-meireles-festaracismo_br_5c5f242ee4b0eec79b23f2a8


Jornal Grande Bahia. «Salvador é a capital mais negra do Brasil e também onde está maior desigualdade salarial entre brancos e pretos». Jornal Grande Bahia, 21 de novembro de 2018, acesso em 27 de maio de 2019, http://www.jornalgrandebahia.com.br/2018/11/salvador-e-a-capital-mais-negra-dobrasil-e-tambem-onde-esta-maior-desigualdade-salarial-entre-brancos-e-pretos/


Lima, Juliana D. de. «A mudança de nome da praça da Liberdade. E a memória negra em São Paulo». Nexo, 07 de agosto de 2018. Acesso em 02 de junho de 2019, https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/08/07/A-mudan%C3%A7a-denome-da-Pra%C3%A7a-da-Liberdade.-E-a-mem%C3%B3ria-negra-emS%C3%A3o-Paulo


Scorce, Carolina «Bairro da liberdade concentrava espaços de tortura e morte contra os negros na escravidão». Carta Capital, 03 de janeiro de 2018. Acesso em 27 de maio de 2019, https://www.cartacapital.com.br/educacaoentrevistas/liberdade-concentrava-forca-o-pelourinho-cadeia-e-o-cemiterio-dos-negros-na-escravidao/


Tokarnia, Mariana. «Negros representam 28,9% dos alunos da pós-graduação». EBC Agência Brasil, 13 de maio de 2015, acesso em 12 de junho de 2019, http://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2015-05/negros-representam-289dos-alunos-da-pos-graduacao


Victoria, Carlos A. «Guadalupe Zapata: la negra grande de Pereira». Las 2 Orillas, 14 de outubro de 2013. Acesso em 02 de junho de 2019, https://www.las2orillas.co/guadalupe-zapata-la-negra-grande-de-pereira/


Documentos


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Músicas


Arroyo, Joe. La Rebelión, em Joe Arroyo y la verdad: grandes éxitos, faixa 3. Miami: Disco Fuentes, 1991.


Madonna e Pettibone, Shep. Vogue, em I'm Breathless: Music from and Inspired by the Film Dick Tracy. Produzido por Madonna e Shep Pettibone. Faixa 12. California: Warner, 1990.


Documentários e vídeos


Livingston, Jennie. Paris is Burning. Filme cinematográfico. Estados Unidos. Produzido e dirigido por Jennie Livingston. 78 minutos. Miramax filmes, 1990.


Ru Paul’s Drag Race – Reading queens. Youtube vídeo, 3:55. Postado por Logo, 16 de setembro de 2014, acesso em 06 de junho de 2019, https://www.youtube.com/watch?v=MyZ6JZkdXSk