Ciencia Nueva. Revista de Historia y Política | e-ISSN 2539 - 2662

Vol. 7 Núm. 1 | Enero - junio de 2023 - Pereira, Colombia





Dossier “Prensa, historia política y opinión pública en el siglo XX”

DOI: https://doi.org/10.22517/25392662.25232 - pp 84-100



Jornalismo cultural e profissionalização do escritor: Uma análise do capítulo “La forja del escritor profesional (1900-1930)”


Cultural journalism and the professionalization of the writer: An analysis of the chapter “La forja del writer profesional (1900-1930)” by Jorge B. Rivera




Resumo


O presente trabalho tem por objetivo a análise do capítulo denominado “La forja del escritor profesional: 1900-1930. Los escritores y los nuevos medios massivos” , do crítico, ensaísta e investigador de temáticas da cultura popular Jorge B. Rivera (1935 – 2004), a partir da abordagem referente ao jornalismo cultural – como uma das necessidades da imprensa – e à profissionalização do escritor argentino. O limiar do século XX situou, portanto, o desenvolvimento da indústria cultural e o processo de profissionalização do escritor no campo do jornalismo, ainda que em uma fase cujos direitos autorais não são reconhecidos e a estrutura editorial ainda é incipiente.

O público, a existência de novos meios editoriais e jornalísticos, assim como a especialização serão, consequentemente, os fatores decisórios para a configuração e crescimento de um novo tipo de escritor, o profissional. Para tal constatação, por meio do método e perspectiva histórica, esta análise buscou tratar da segmentação e crescimento do público leitor cada vez mais atento aos assuntos de maior profundidade, correspondentes, sobretudo, às seções sobre economia, política e cultura. Dessa forma, o recorte historiográfico delimitado pela obra, demarcando as 3 primeiras décadas do século XX argentino é fecundo para o estudo dos periódicos rioplatenses e para a observação do florescer do jornalismo literário, campo em que os escritores começam a experimentar as novas possibilidades e também os limites da profissionalização.


Palavras-chave: intelectualidade, jornalismo, cultura, profissionalização.


Abstract


This work analyzes the chapter called “La forja del escritor profesional: 1900-1930. Los escritores y los nuevos medios masivos”, by the critic, essayist, and thematic researcher of popular culture Jorge B. Rivera (1935 – 2004), from the approach related to cultural journalism – as one of the needs of the press – and the professionalization of the Argentine writer. On the cusp of the 20th century, the development of the cultural industry and the process of professionalization of the writer in the field of journalism, although in a phase whose copyrights are not recognized, and the editorial structure is still incipient.

The public, the existence of new editorial and journalistic means, as well as specialization will be, consequently, the decision-making factors for the configuration and growth of a new type of writer, the professional. For this finding, through the method and historical perspective, this analysis sought to deal with the segmentation and growth of the reading public increasingly attentive to the subjects of greater depth, corresponding, above all, to the sections on economics, politics and culture. Thus, the historiographic cut-off delimited by the work, demarcating the first 3 decades of the Argentine twentieth century is fruitful for the study of Rioplatense periodicals and for the observation of the flourishing of literary journalism, a field in which writers begin to experience the new possibilities and the limits of professionalization.


Keywords: intellectuality, journalism, culture, professionalization.


Resumen


El objetivo de este trabajo es analizar el capítulo denominado «La forja del escritor profesional: 1900-1930. Los escritores y los nuevos medios masivos» del crítico, ensayista e investigador temático de cultura popular Jorge B. Rivera (1935-2004), desde el enfoque del periodismo cultural y la profesionalización del escritor argentino. En el umbral del siglo XX, el desarrollo de la industria cultural y el proceso de profesionalización del escritor se situaron en el campo del periodismo, aunque en una fase en la que los derechos de autor no eran reconocidos y la estructura editorial aún era incipiente.

El público, la existencia de nuevos medios editoriales y periodísticos, así como la especialización fueron factores determinantes en la configuración y crecimiento de un nuevo tipo de escritor: el profesional. Para comprender este fenómeno, se recurrió a un enfoque histórico y metodológico, que abordó la segmentación y el crecimiento del público lector, especialmente en temas de economía, política y cultura. El análisis se enfoca en las primeras tres décadas del siglo XX argentino, lo cual resulta fructífero para el estudio de las publicaciones periódicas rioplatenses y para la observación del florecimiento del periodismo literario, un campo en el que los escritores comenzaron a experimentar nuevas posibilidades y también a enfrentar los límites de la profesionalización.


Palabras clave: intelectualidad, periodismo, cultura, profesionalización.



1. Indústria cultural e o nascimento do jornalismo literário


O desenvolvimento da indústria cultural e o processo de profissionalização do escritor no campo do jornalismo são dois fenômenos paralelos que se intensificaram principalmente no início do século XX, na Argentina. Fatores como o processo de modernização da imprensa e a incorporação de novas tecnologias nas mídias asseguraram a diversificação da produção jornalística. Sobretudo, a partir dos anos de 1900, as produções periódicas apresentaram um relevante crescimento em proveito de uma concretização dos dispositivos editoriais e das exigências do mercado inspirado por entretenimento e informação. Diversos estudos debruçam-se sobre a análise da indústria cultural e do nascimento do jornalismo literário, principalmente nos países que compõem a América Latina. Uma ampla produção historiográfica a respeito do trânsito entre a profissionalização dos ritores e suas produções veiculadas nas prensas está disponível para estudo e consulta, como é o caso das obras do investigador de temáticas da cultura popular, Jorge B. Rivera1.

Através deste trabalho de análise do texto "La forja del escritor profesional (1900- 1930). Los escritores y los nuevos medios massivos" de Jorge B. Rivera, é possível traçar um panorama geral do surgimento da crítica literária na França do século XVII – mais especificamente com a emergência da gazeta especializada Journal des Savants, em 1655 –, até o que foi cunhado como jornalismo cultural, presente nas produções periódicas rioplatenses em finais do XIX como conceito e, expressivamente, na primeira metade do XX. Dessa forma, o objetivo central deste trabalho é o de abordar o início do jornalismo literário como fenômeno considerado introdutório para o crescimento e profissionalização dos escritores, já que a literatura foi o primeiro uso estético da linguagem escrita a ocupar lugares nos prelos. Por meio do método e perspectiva histórica de diálogo entre autores importantes dessa área do conhecimento e explorando os diferentes debates, pretende-se apresentar a relação entre o jornalismo cultural e a profissionalização do escritor argentino, levando-se em consideração a ótica do investigador Jorge B. Rivera em seu estudo do capítulo mencionado acima.


2. Entre o jornalismo e a literatura


O vínculo entre jornalismo e literatura na perspectiva histórica sempre existiu. As redações dividiram espaço com a literatura desde as primeiras publicações de jornais, estreitando, assim, os laços entre os escritores e a conquista da remuneração e status do trabalho publicado no formato de romances, contos e novelas. Segundo o teórico Pierre Bourdieu (1930-2002), ao se debruçar sobre os estudos concernentes à formação das elites intelectuais e ao processo de automização do campo literário, assegura que o campo intelectual de bens simbólicos permite com que seja possível a compreensão de uma obra literária ou de um autor, e que ambos são determinados pelo sistema das relações sociais. Ou seja, ambos fazem parte da estrutura do campo intelectual2. O crítico, ensaísta, poeta, jornalista e investigador de temáticas da cultura popular, Jorge B. Rivera (1935-2004) possui mais de 20 livros; diversos prólogos e artigos e, por conta de sua relevante produção acadêmica, é considerado um dos precursores da investigação sistemática dos meios de comunicação da Argentina. Entre eles, encontram-se os gêneros: folhetim, narrativa policial, "historieta" e "literatura gauchesca”. A simultaneidade da evolução global dos gêneros possui particularidades que vão se renovando, configurando e estruturando novas influências e novos públicos, cada vez mais exigentes. À vista disso, não é um risco afirmar que, em linhas gerais, os gêneros narrativos argentinos remetem, de maneira direta, aos modelos europeus e anglo-norte-americanos.

Sabendo disso, Jorge B. Rivera apresentou, em seus escritos, a constituição discursiva sobre o campo do jornalismo cultural e já alertava como não é de fácil compreensão e nada uniforme. Para o autor, a definição do jornalismo cultural pode ser descrita como

... uma zona muito complexa e heterogênea de meios, gêneros e produtos que abordam com propósitos criativos, críticos, reprodutivos ou de divulgação os terrenos das ‘belas artes’, as ‘belas letras’, as correntes do pensamento, as ciências sociais e humanas, a chamada cultura popular e muitos outros aspectos que têm a ver com a produção, circulação e consumo de bens simbólicos, sem importar sua origem e destinação3.

Isto posto, a produção jornalística e intelectual está formatada em um único fórum público de manifestação do pensamento, e tal produção proporciona para o leitor o exercício da reflexão, por meio do consumo das artes e da produção cultural organizadas na sociedade.

À parte expor a filosofia estética de uma obra, por exemplo, cabe também a reflexão sobre as circunstâncias sociais e históricas em que foi concebida no sentido de apresentar a obra como um processo cultural, na tentativa de captar o movimento vivo das idéias, e não apenas como produto4.

Por ser um espaço público de produção intelectual, o jornalismo cultural não pode ser considerado apenas como meio de veiculação da cultura ilustrada e erudita. Segundo Edgar Morin, a cultura é "Palavra mito que tem a pretensão de conter em si completa salvação: verdade, sabedoria, bem-viver, liberdade, criatividade..."5. Já o ensaísta e crítico literário Alfredo Bosi aponta que a cultura é um conjunto "de modos de ser, viver, pensar e falar de uma dada formação social"6.

Um dos marcos expressivos para o jornalismo cultural foi a partir da criação da revista diária The Spectator, sob direção de dois ensaístas ingleses, Richard Steele (1672-1729) e Joseph Addison (1672-1719). Ambos tinham como finalidade levar a filosofia dos meios acadêmicos e dos gabinetes para lugares de sociabilidade, como cafés e casas de chá. Entre os assuntos veiculados na revista estavam citações de livros, festivais, música, teatro e política, com uma linguagem culta, todavia, não propriamente erudita. Segundo Daniel Piza, a revista The Spectator e, sobretudo o jornalismo cultural

... nasceu na cidade e com a cidade. Não por acaso, Addison e Steele comentam com frequência a difícil adaptação de um homem do campo que se mudou para Londres. Até o século anterior, os cavalheiros, homens com estudo e refinamento, moravam em propriedades rurais e desprezavam a rudeza urbana, onde a industrialização que começava causava poluição e atraía pobres. A Spectator se dirigia ao homem da cidade, 'moderno', isto é, preocupado com modas, de olho nas novidades para o corpo e a mente, exaltado diante das mudanças no comportamento e na política. Sua ideia era a de que o conhecimento era divertido, não mais a atividade sisuda e estática, quase sacerdotal, que os doutos pregavam7.

Já no Brasil, a imprensa se dinamizou com o fim da censura prévia estabelecida pelo Reino de Portugal, em 1821. No contexto de efervescência dos ideais liberais, diversos jornais entraram em circulação no país a serviço, em especial, de grupos políticos, em sua grande maioria8. A modernização das empresas jornalísticas e a importação de equipamentos tecnológicos marcaram, mais expressivamente, a segunda metade do século XIX. Todavia, de tal forma, desde o início do século XIX, os jornais representavam um ofício para que escritores pudessem expressar suas indagações, opiniões e trabalhos9. A partir desse momento, além das tipografias situadas no Rio de Janeiro e Salvador, também outras localizadas em Recife e na região norte do país começaram a funcionar, publicar e produzir periódicos dos mais variados assuntos, conforme a veiculação mais expressiva das temáticas que abordavam os campos da economia, política, cultura e sociabilidade. Segundo José Marques de Melo, "Esse processo levaria cerca de 30 anos (a partir da emancipação política) para se completar, abrangendo todas as unidades estaduais"10. Logo em seguida a esse recorte historiográfico, a imprensa brasileira se inseriu em um novo cenário que contemplou os romances de folhetim. Publicado no Diário do Rio de Janeiro em 1857, "O Guarani"11, de autoria de José de Alencar, data o sucesso e a proliferação dos romances literários. Ao citar Werneck Sodré12, Aline Strelow, em Jornalismo literário e cultural: Perspectiva histórica relata que

... as artes gráficas no Brasil têm já condições para permitir uma revista como a Kosmos, de excelente apresentação, separando o desenho da fotografia. Para a crônica de abertura, o periódico contava com a assinatura de Olavo Bilac; de teatro, ocupava-se Artur Azevedo, depois substituído por João do Rio; a crítica literária era responsabilidade de José Veríssimo; e Gonzaga Duque escrevia sobre arte. A revista sobreviveu até 1906, quando apareceu sua concorrente Renascença, que contou com a participação de muitos de seus colaboradores. A Avenida, Os Anais, Revista Americana e A Rua do Ouvidor foram outros títulos desse período. Pequenas e efêmeras revistas literárias, atendendo aos anseios dos grupos de escritores que se formavam, surgiram nos mais diversos estados do país13.

Na Europa, o jornalismo e a literatura floresceram com o advento das revistas culturais no século XVIII. Na obra denominada El escritor y la industria cultural. El camino hacia la profesionalización (1810-1900), Rivera nota que

Nestes anos de passagem entre a Europa do "esclarecimento'' e a Europa “romântica”, que são também os anos de trânsito da Revolução Industrial e da consolidação do poder político e económico da nova burguesia, assistimos a um duplo processo de desenvolvimento, que responde às mesmas causas subjacentes. Por um lado, o desenvolvimento progressivo da tecnologia gráfica, que fornece os meios materiais para a existência de jornalismo em massa e custos comparativamente reduzidos; capaz, pela mesma razão, de satisfazer as crescentes exigências populares de educação, informação e entretenimento. Por outro lado, a configuração (praticamente definitiva) das características temáticas, ideológicas e formais desse mesmo jornalismo, e até a cunhagem do tipo clássico do “jornalista" e a vasta gama de “defeitos" e “virtudes" que serão convencionalmente notados na imprensa e nos homens que se dedicam ao seu serviço14.

Se no Brasil o diálogo mais intenso entre literatura e jornalismo começou vigorosamente apenas na segunda metade do século XIX, na Argentina esse processo não foi muito diferente. Atendendo às novas necessidades dos leitores e do mercado, o jornalismo se especializou em princípios do século XX, atingindo, assim, o seu ápice poucos anos depois. Os escritores argentinos buscavam não somente a visibilidade de seus trabalhos, mas a devida remuneração e profissionalização da área de atuação. No tocante aos projetos e as novas circunstâncias, desde 1900 até meados dos anos 1930, a situação do jornalismo e dos escritores nacionais se constituiu como um personagem interessante, partindo para o reconhecimento e instauração do escritor pelo caráter profissional e pelo trabalho intelectual como resultado direto dos projetos editoriais, já que, no início do texto "La forja del escritor profesional (1900-1930). Los escritores y los nuevos medios masivos" o autor sinalizou que

... desde o início do século, alguns projetos editoriais de grande simbolização são delineados e desenvolvidos e, de diferentes perspetivas, tentam responder aos novos leitores decorrentes do processo de literacia e modernização global da sociedade argentina15.


3. A literatura como labor


Ao examinar os projetos editoriais e as novas circunstâncias pelas quais os escritores argentinos estavam submetidos no início do século XX, Rivera constata que a situação estava distante de ser estimulante, apesar do contexto de expansão do jornalismo cultural ser notório em finais do século XIX.

O contexto é notoriamente favorável a esta expansão. Por um lado, a população teve um crescimento muito rápido nas décadas anteriores. A Argentina passa de 1.877.490 habitantes de acordo com o Censo de 1869, para 4.044.911 no Censo de 1895, e para 7.903.662 no Censo de 1914: a sua população multiplicou- se por oito em apenas quarenta e cinco anos. [...] Mas a expansão da imprensa é ainda maior. Os grandes jornais multiplicaram a sua circulação por 50 no mesmo período; revistas com maior circulação, por 100. Os jornais têm uma circulação média de 33%, o que mostra o efeito não só do aumento da população e da alfabetização, mas também dos hábitos de leitura e da aquisição de jornais16.

Ao longo do capítulo aqui analisado, uma série de temas teóricos e metodológicos são explorados para investigação da conexão entre a figura do escritor profissional e o panorama sociocultural, econômico e político. Algumas características são explicitamente citadas, como a incipiência técnica e, em contrapartida, a economia aquecida da indústria; assim como os altos custos de produção, as dimensões reduzidas de mercado e até mesmo a falta de papel para a materialização dos trabalhos. Por conta desse cenário, tais edições eram raramente comparadas com aquelas produzidas nas grandes prensas e casas europeias17.

Contudo, significativos projetos editoriais foram criados como resposta ao processo de alfabetização e modernização da sociedade argentina, como é o caso do projeto de Emílio Mitre. Inspirado nos modelos franceses e norte-americanos, seu trabalho tinha como propósito editar obras de fácil leitura, atrativas e de valor literário, além de oferecer livros a preços mais acessíveis em relação aos valores tabelados da época. Ademais, sua contribuição favoreceu o desenvolvimento da literatura nacional. Tamanha relevância é descrita por Rivera no seguinte trecho: "O êxito da ‘Biblioteca’ foi certamente imediato, e entre novembro de 1901 e fevereiro de 1920, data de seu desaparecimento, publicou 875 títulos.” O autor ainda complementa que

a "Biblioteca da Nação" tendia a consolidar – entre as camadas médias – o projeto cultural e a concepção literária do grupo de referência, e nesse sentido ao leitor mais 'cultivado' consumido na sua versão original francesa (ou eventualmente inglesa) a última "novidade" europeia, a "Biblioteca da Nação" colocou essa mesma "novidade" ao alcance dos novos leitores da classe média18.

A Biblioteca Argentina, dirigida por Ricardo Rojas (1882-1957), com selo da Librería La Facultad, de Roldán y Cia., teve por concepção o ideário de reforma didático-educativa presentes na obra La restauración nacionalista (1909) de Ricardo Rojas, além dos objetivos centrais de publicação de livros nacionais destinados aos estudantes e edições por menores preços de difusão. Com a pausa da guerra19, a biblioteca fez um trabalho de orientar a consciência argentina dos feitos de seus antepassados.

Neste caso, o plano de edição dos materiais de domínio público seguiu algumas primícias. Entre elas, a de publicar livros entregues ao domínio comum seguidos da Lei20 de propriedade literária. Rivera aponta a existência também de um outro projeto semelhante ao da Biblioteca Argentina que foi a criação de La Cultura Argentina – mais tarde, se transformaria em La Cultura Popular. A coleção com selo dos Talleres Gráficos Rosso e dirigida por José Ingenieros (1877-1925), apresentou propostas semelhantes às da Biblioteca Argentina, conforme o registro dos textos canônicos de autores como Domingo Faustino Sarmiento (1811-1888), Bartolomé Mitre (1821-1906) e Juan Bautista Alberdi (1810-1884), e de textos positivistas de poetas românticos e pós-românticos. Abriu espaço, da mesma forma, para produções de pensadores críticos e viajantes ingleses.

Ao menos na Argentina, o jornalismo possibilitou um relevante acesso aos cargos de exercício da mais alta magistratura no século XIX, principalmente aos periódicos que adentraram o campo político. Tal fenômeno ficou conhecido como "periodismo de estadista”. Segundo Díaz21 nesse tipo de jornalismo o responsável pela coluna de opinião está também ao cargo do exercício do poder executivo do país. Dois casos emblemáticos que podem ser citados aqui são dos presidentes argentinos Sarmiento (1811-1888) e Juan Domingo Perón (1895-1974), os quais escreveram colunas para El Nacional (1852-1893), La Tribuna (1855-1880) e Democracia (1945-1955)22.

Ao discutir sobre o início de um relevante projeto editorial em 1915, conhecido como publicações em quiosques – por meio de livretos dirigidos por Leopoldo Durán e Ernesto Morales, em Ediciones Mínimas –, Rivera aponta algumas características que deram autenticidade a estas publicações. Esses folhetos continham por volta de 15 a 20 páginas, vendidos fundamentalmente em quiosques pelo preço de 0,10 centavos. Os trabalhos publicados pertenciam a alguns autores, entre eles Monteavaro (1876-1914) e Almafuerte (1854-1917).

Os materiais que compõem estas coleções são de qualidade obviamente díspar. Juntamente com excelentes contributos de Quiroga (Un drama en la selva, que mais tarde se tornará Anaconda), [...] existem expressões esquálidas de uma literatura ocasional e estereotipada que presta homenagem às piores tendências do sentimentalismo em uso. Tendo, sim, do ponto de vista do desenho de um novo produto cultural, o mérito de ter incorporado recursos 'modernos', como a ligação em volumes, as altas tiras de impressão que reduzem os custos, um bom equilíbrio de elementos gráficos (com a colaboração de plásticos de valor autêntico, como Alejandro Sirio ou Hohmann), a inclusão da publicidade, a utilização de ‘recursos’ capazes de despertar o interesse dos leitores (incluindo concursos, inquéritos, serviços auxiliares, dom de pontuações, etc.)23.


4. Os órgãos de difusão literária de Manuel Gálvez, Boedo e Florida


Rivera também citou Manuel Gálvez (1882-1962) e sua contribuição para o desenvolvimento do campo literário argentino. Poeta, ensaísta, historiador, narrador e biógrafo argentino, Gálvez participou ativamente da contrarreação ao positivismo e cosmopolitismo presente na intelectualidade argentina, defendendo o componente "hispânico" na nacionalidade e a profissionalização do escritor na vida literária e jornalística do país. Seu primeiro trabalho a atingir relevância foi El Diario de Gabriel Quiroga, publicado em 1910, com características claras da sua reação nacionalista e tradicionalista frente às influências externas.

Em 1916, Gálvez criou o projeto intitulado Cooperativa Buenos Aires como um novo espaço de consumo literário e, segundo Rivera, de características revolucionárias para a época. Constituiu, assim, um importante meio disseminador da literatura argentina moderna.

Começa por selecionar, com grande discernimento político, os possíveis candidatos para integrar a Cooperativa, e coloca o maior volume do pacote de participação entre homens da fortuna, que além disso escrevem, mas não de forma abundante e sistemática. O resto divide-se entre escritores de prestígio e qualidade reconhecida, como Horácio Quiroga, que se não for notado pelo público da elite cultural tem, por outro lado, uma reputação solidamente consolidada entre o vasto círculo de leitores da classe média, que acompanham de perto a sua abundante colaboração em Caras y Caretas, Fray Macho e Plus Ultra24.

Apesar de observar o empenho do trabalho, Rivera faz uma observação em relação a opinião de Manuel Gálvez nos livros intitulados El enigma interior (1907) até El mal metafísico (1916). Neles, o autor aponta que "... o crítico está menos interessado na sua retórica avaliativa do que na sua capacidade real e operacional de chegar ao leitor (um leitor que é intuitivo massivo e potencial) para se interessar pelo consumo da obra"25. Em aproximadamente 10 anos de produção intelectual, um grande número de resenhas e críticas aparecem nas obras de Gálvez a respeito da busca por um novo circuito de leitores e da propagação do pensamento de que o livro deveria ser mais visto como um objeto de consumo. A partir dos anos de 1920, dentro das linhas e das orientações editoriais mais convencionais, surge um conjunto de projetos com a intenção de agitação política, cultural e pedagógica, de viés da esquerda clássica. As obras referidas são os livretos econômicos de Os Pensadores, motivados por Antonio Zamora (1896-1976) e que difundiram clássicos universais, novelas naturalistas e narrações dos jovens da corrente literária social. Entre alguns nomes estão os de Elías Castelnuovo (1893- 1982) e Antonio Soto (1884-1980). Rivera assevera que:

... a ascensão da edição nacional e os novos apetites do público de leitura incentivam e estimulam o aparecimento de oficinas gráficas, editoras e livrarias, que se escalonam desde os dias brilhantes e propiciatórios do Centenário: as livrarias gerais de Pedro García e Tomás Pardo, as impressoras de López e Sebastian Amorrortu, a livraria de 'Anaconda', a incorporação das grandes oficinas de Lorenzo Rosso, etc.26.

Como já citado, os anos 1920 foram palco da construção de projetos editoriais importantes. Em 1926, nascia a Editorial América. O plano apresentou as edições de obras de Lynch Méndez (1885-1951), Rafael Calzada (1854-1929) e Lopez Merino (1904-1928). A partir de uma filosofia editorial rígida, o projeto buscou contribuir para a formação de um fundo de literatura científica, além de tornar acessível o alcance de livros a todas as classes sociais e ofereceu aos autores o reconhecimento necessário de suas obras, como forma de estimular a produção intelectual.


5. A forja do escritor profissional e suas tipologias


Para explicar o momento crítico de polarização do processo de profissionalização do escritor, Rivera exemplifica casos extremos do "escritor herdeiro" e "escritor profissional". No caso do "escritor herdeiro", o nome de Angel de Estrada (1872-1923) ficou em evidência. Diante dos privilégios oferecidos por sua fortuna, ele é o típico "escritor herdeiro" que consegue viajar, estudar e ter o tempo suficiente para produzir suas obras para um circuito de leitores seletos, com uma capacidade de refinamento expressivo. Em contramão, Horacio Quiroga, o "escritor profissional", se depara com uma barreira, a da economia narrativa. Condiciona, desse modo, a apresentação dos conflitos e dos efeitos narrativos como uma exigência imposta pelas revistas.

Se num escritor como Angel de Estrada a motivação crematística, ou estritamente profissional, se retrair até ser relegado para um fundo discreto (ou diretamente não existe), em Horácio Quiroga terá um carácter dominante, quase prioritário, ao ponto de ele próprio reconhecer não ter escrito "mas para a economia". Quiroga, pelo contrário, será o narrador vigoroso, robusto e legível que se atreve às publicações massivas das revistas e ao julgamento fulminante dos seus leitores, aos milhares de seres anónimos (já não 'almas gémeas') que lêem as páginas populares de y Caretas, Fray Mocho, Papel y, El Cuento, La Novela Semanal, P.B.T., El Hogar, etc.27.

Na citação acima, Rivera pontuou o escritor Horacio Quiroga como um dos que melhor tipifica os já poucos escritores rioplatenses que contestaram as questões teóricas e práticas sobre o ofício e seus aspectos materiais. Ou seja, Quiroga argumentou com as revistas para que a prática de escritor fosse, minimamente, uma atividade remunerada e devidamente reconhecida.

... desde 1905, nas suas relações com os empresários das revistas, numa tentativa definitiva e nem sempre feliz de transformar a literatura (como acontece noutras partes do globo) numa atividade bem remunerada, num modo de vida ao qual poderia dedicar todo o seu tempo e talento, sem viver sob o já referido "demônio" de especulações fabulosas (Rivera 1985, p. 48).

Em relatos de 1911 com seus amigos, entre eles Fernández Sandaña (1879-1961), Quiroga revela viver do que escreve, a partir dos seus trabalhos publicados na revista Caras y Caretas: "... me pagam $40 por página e acabo com 3 páginas por mês. Total: $120 mensais. Com isto eu vivo bem28. Rivera ainda conclui que

Caras y Caretas, que foi uma das primeiras publicações que regularmente pagavam por colaborações literárias, lançou para o novo público uma fórmula original e eminentemente atrativa, que satisfazia adequadamente as mais variadas necessidades e preferências: caricaturas, banda desenhada, notas atuais, crônicas, histórias, poemas, fotogravuras, relatórios, curiosidades, vinhetas tradicionais, críticas, informação desportiva, entretenimento, publicidade, etc.29.

A revista Caras y Caretas surge, portanto, como uma empresa jornalística em um momento de mudança no qual os jornalistas estão paulatinamente ganhando espaço e reconhecimento profissionais. Não obstante ao que foi dito por Quiroga sobre "viver do que se escreve", houve um longo processo de consolidação da indústria cultural a respeito da profissionalização e, em especial, da remuneração. Alguns escritores realmente conseguiam com relativa facilidade as suas profissionalizações em um prazo curto de tempo. Todavia, Rivera afirma que apesar de alguns escritos conseguirem sobreviver apenas do trabalho intelectual, muitos outros dependeram de um segundo emprego para se sustentarem. Durante esse processo, a concepção anti-utilitarista das artes e das letras ainda permanecia vigente. Esse pensamento surtiu tanto efeito que em 1987 foi publicado um manifesto, na primeira edição de La Montaña (1/4/19897).

Destarte, tanto Horacio Quiroga como Manuel Gálvez incitaram o importante debate sobre a estrutura de produção industrial, além das questões materiais do ofício e o valor aplicado sobre as obras produzidas. As reivindicações profissionais logo surgiriam frente ao movimento anti-utilitarista (que não demoraria a se dissolver). A exemplo disso, no ano de 1906, foi fundada a primeira Sociedad de Escritores e, no ano seguinte, a Sociedad de Autores Dramáticos y Líricos. Já em 1910 é aprovada a Ley de Propiedad Intelectual e em 1918 a Sociedad de Autores y Compositores. Em suma, é notório que esses setores das artes conseguiram se organizar, principalmente aqueles "vinculados mais e diretamente à indústria cultural massiva, com um mercado de consumo concreto e com uma concepção menos sacralizada do objeto produzido"30.

Em El escritor y la indústria cultural, Rivera exprime a ideia de que

A maioria dos escritores em geral, usam mais frequentemente os canais de jornalismo e revista, e mais adventíciamente a edição, realizada com os sacrifícios e adiamentos do caso. De qualquer forma, no ambiente da Argentina finissecular, a imagem do escritor 'profissional' já está praticamente configurada. A existência de novos leitores, o carácter técnico diversificado do jornalismo diário, que passou do velho tom predicativo e partidário para um tom eminentemente informativo e recreativo, o relativo sucesso popular das produções literárias locais, a consequente redimensionamento dos mercados em que o escritor pode colocar a sua 'mercadoria' e até a lição prestada pelo Modernismo, contribuíram para isso. desde que exigisse ao escritor uma atitude de maior rigor técnico e enfatizasse a especificidade do fato literário31.


6. As organizações e reivindicações profissionais dos escritores


Da mesma forma, o "grêmio periodístico" também foi um setor representativo dos interesses profissionais. Em 1891, por intermédio de Guillermo Stock (1869-1944), foi fundado o Círculo de Cronistas – mais tarde chamado de Círculo de la Prensa. Acordando com a ala tradicional liberal do periodismo argentino, as propostas principais envolviam desde a defesa da liberdade de imprensa até aspectos de assistência médica gratuita aos seus membros.

Em 1901, o Círculo de Imprensa promoveu a realização do primeiro congresso nacional de jornalistas, no qual foram abordados sobretudo aspetos profissionais, como a moralidade das notícias, as taxas de transporte para jornalistas, a missão do jornalista e a imprensa do ponto de vista da legislação nacional, etc., abordando também aspectos diretamente relacionados com a relação laboral entre empresas jornalísticas e profissionais, juntamente com aspetos como o alívio em caso de doença ou de despedimento, a defesa da independência intelectual do jornalista e até - embora este tema apenas mereça uma declaração final como uma simples recomendação - sobre a "remuneração equitativa dos seus serviços"32.

A nova inserção dos escritores no que se reconheceu como circuito jornalista também foi marcada por momentos instáveis, como a "Crise das Ilusões Perdidas", expressa, em grande vigor, na obra de teatro denominada El Triunfo de los otros (1907), de Roberto J. Payró (1867-1928). A obra trouxe consigo algumas perspectivas de crítica a respeito das medidas elitizadas, hierarquizadas e aristocráticas dos modelos clássicos e, sobretudo, à percepção do público leitor sobre os papéis reservados aos escritores.

A inserção na indústria provocará vários tipos de reações e respostas: para alguns será a crise com as suas previsíveis sucuelas de anulação, marginalização e suicídio intelectual (e até físico). outros, pelo contrário, encontrarão formas de "realização: crítica literária, nota obituária (transformada num exercício sumptuoso de estilo), a crónica parlamentar, a nota costumbrista, a descrição das viagens, etc.33.

Esse nascente periodismo massivo no início do século XX criou um terreno de diversidade de produções, desde revistas repletas de contos, ilustrações até aquelas dedicadas à poesia e à música. O papel do Estado também merece menção aqui no que concerne à função de benfeitoria.

O patrocínio exercido pelo Estado possui outras características e é geralmente apresentado sob a espécie de pensão a escritores ou viúvas de escritores (em 1916 Almafuerte receberá uma pensão de 200 dólares), comissões especiais (viagem de Lugones às missões jesuítas, por exemplo), a compra de determinadas obras (normalmente legais, militares ou históricas), nomeações burocráticas (diretores de bibliotecas Groussae e Lugones), etc.34.

Segundo Díaz35, a partir dos anos 1870, o jornalismo era superior ao Estado pela sua estabilidade, pelo papel de disseminador cultural e também pelo fato de sua proximidade com o público leitor. Entretanto, o mesmo não se observa no século XX. Com o Estado argentino mais consolidado, o poder da imprensa passa a estar mais à mão dessa instituição e, assim, por meio dos veículos de comunicação, os "objetivos nacionais” se deslocam para primeiro plano. A adoção de promoções artísticas e intelectuais, como é o caso da criação da Comisión Protectora de Bibliotecas Populares representou um estímulo da leitura de todas as classes sociais e da criação e uso das bibliotecas públicas. Porém, é de se questionar o proveito desses feitos.

Por último – mas não menos importante – Rivera coloca luz sobre um tema importante dentro das inúmeras facetas e paradoxos presentes no momento de massiva indústria cultural e profissionalização dos escritores argentinos: a boemia. Ele explica que os escritores boêmios são os colaboradores que problematizam as relações intrínsecas entre jornalismo e literatura. Algumas revistas e jornais, como é o caso da revista Caras y Caretas, assumem papel de lugares onde se é possível assumir o campo profissional. Porém, é necessário salientar aqui que tais veículos também apresentam imagens bem distorcidas da literatura, uma imagem de supervalorização. O autor complementa que "... os escritores atraídos ou presos pelas ‘luzes boêmias' constituirão uma página pouco conhecida, ou apenas conhecida pelos seus aspectos mais superficiais e anedóticos"36.

No último quarto do século XIX, em relação aos escritores boêmios, Rivera aponta para alguns nomes de relevância do movimento e que não tiveram um destino tão proveitoso na profissão. Além de Juan Chassaing (1839-1864), Gervasio Méndez (1843-1897) e Adolfo Lamarque (1852-1888) fazem parte do grupo de poetas acometidos pelo fracasso e pela tragédia da pobreza, enfermidade e morte em plena juventude. Jovens escritores argentinos como estes, acometidos pelos desprazeres da vida e marginalizados socialmente fortalecem ainda mais o imaginário popular que romantiza a melancolia do profissional das letras e prensas:

A ideia de trabalho criativo como uma atividade "separada" e "livre" num mundo energético e avidamente mercantilista será sugerida (basta recordar as palavras com que Wilde saúda em 1877 o aparecimento de Prometeu de Andrade), e sob a capa desta ideia de "separação", A 'diferença' e a 'gratuitidade' não serão realmente aleatórias uma certa pregação anti-utilitária, que coexiste com os primeiros sinais de 'profissionalismo' literário e determina a complexa configuração deste momento"37.


7. Considerações


Antes mesmo do prelúdio do século XX na Argentina, novas exigências técnicas do jornalismo denotaram um tipo de escritor definitivamente mais profissional e comprometido com o trabalho. A nova inserção desses atores no circuito jornalístico e na complexa indústria cultural provocou uma derradeira crise de ilusões para alguns e sucessos para outros. Houveram confrontos entre o projeto e a realidade do trabalho imposto como alternativa eventual. Logo, a inserção na indústria causou algumas consequências, como, por exemplo, a marginalização e suicídio (intelectual e físico). Ao contrário dessa realidade, outros escritores encontraram formas de adaptação dos novos recursos disponíveis. Dessa forma, Rivera cita o cenário de falta de editores, já que as obras passam a ser editadas por conta própria dos autores e isso começou a fazer parte de um aspecto relevante na profissionalização do escritor. Ainda no início da década de 1870 não é possível afirmar a existência de uma sociedade de escritores profissionais. Apesar disso, é crucial a ênfase de que "... ao longo da década, não faltam fundamentos que delimitam e se especializam no campo específico em que o escritor se move ou deve mover-se"38, como a criação da Academia Argentina e o Círculo Científico Literário, antecedentes das fundações que perduraram no tempo.

O florescer do público leitor dos catálogos clássicos das grandes livrarias não tardou, devido à circulação de folhetins, como aqueles representados por La Patria Argentina e os cuadernillos gauchescos. Fica nítido o começo da solidificação do campo de especialização no início do século XX, no qual os novos escritores puderam contribuir no mercado editorial, apesar de todas as ressalvas já apontadas por Rivera em relação às dificuldades de modernização na área de atuação e da falta de valorização do escritor como profissional. Sobretudo, como novidade, essa tentativa de promoção de escritores através dos projetos editoriais passou a não depender, fundamentalmente, da orientação e apoio de grandes figuras culturais dos grupos de referência. De forma semelhante, os escritores também começam a experimentar as novas possibilidades e limites da profissionalização.



* Graduada no curso de Licenciatura e Bacharelado em História, pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Ex-bolsista PET-História Unesp Franca e, atualmente, mestranda no Programa de Pós-Graduação em História - FCHS - Câmpus de Franca; linha de pesquisa em História e cultura Social; área de orientação: Escravidão e Estado (séculos XVII-XIX). Membra do grupo de estudos “Leviatã e o Cativeiro”, sob orientação do Prof. Dr. Ricardo Alexandre Ferreira.


1 Jorge Bernardo Rivera (Buenos Aires, 1935-2004) foi pesquisador de história e cultura popular, além de ter exercido cargos como poeta, ensaísta, crítico e jornalista. Devido aos seus trabalhos, é considerado pioneiro na pesquisa de mídia em comunicação. Com mais de 20 livros e diversos artigos, suas obras tratam de temáticas referentes à literatura, jornalismo, tango e cinema. Além disso, também se debruçou sobre gêneros como o folhetim, histórias policiais e em quadrinhos e literatura gaúcha. Criou a cadeira de História Geral dos Media e Sistemas de Comunicação na Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Buenos Aires e também foi diretor da carreira de Ciências da Comunicação da mesma instituição. Para maior aprofundamento, ver em: Julyo, Moyano. "Jorge B. Rivera", in Ford, Landi, Rivera, forjadores de un campo, comp. Eduardo Rinesi (Buenos Aires: Universidad Nacional de General Sarmiento, 2016).

2 Para entender de forma aprofundada o conceito de "campo intelectual", de Pierre Bordieu, ver em: Pierre Bourdieu, O poder simbólico, trad. Fernando Tomaz (Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989) e Pierre Bourdieu, Campo de poder, campo intelectual (Buenos Aires: Folios, 1983).

3 Rivera, Jorge B. El periodismo cultural, 3ª (Buenos Aires: Paidós, 2003), 15. (Todas as citações diretas são traduções da autora).

4 Rivera, El periodismo..., 15.

5 Morin, Edgar, "A grande diluição cultural", Revista Senhor (1963), 75.

6 Bosi, Alfredo. "Cultura Brasileira", en Temas e Situações (org.) 4ª edição, (2003) (São Paulo: Ed. Ática, 1987), 319.

7 Piza, Daniel. Jornalismo Cultural. 2ª ed. (São Paulo: Contexto, 2004), 8.

8 Ver em: Marco Morel e Mariana Monteiro de Barros. Palavra, imagem e poder: O surgimento da imprensa no Brasil do século XIX (Rio de Janeiro: DP&A, 2003).

9 Machado de Assis, por exemplo, homem negro e um dos maiores nomes da literatura brasileira, ainda no momento de sua juventude foi um destes homens que utilizaram a imprensa como meio de propagação das suas primeiras ideias. Segundo Lúcia Granja (2010), Machado de Assis, por meio das escritas semanais, "estreitou o foco da observação e análise crítica de seu tempo, conforme lhe exigia a natureza das crônicas da semana" (p. 76). Também a autora assevera que "Ao longo de tantos anos, acreditou na Literatura e na crítica literária com função pedagógica e moralizadora, é natural que seu jornalismo apareça como espaço privilegiado" Lúcia Granja, "Machado de Assis, jornalista: o homem, o texto, o tempo", Olho d'água 2 (2010), 77.

10 De Melo, José Marques, Sociologia da imprensa brasileira (Petrópolis: Vozes, 1973), 91.

11 Para aprofundamento do romance brasileiro "O guarani", de José de Alencar (1857), e a construção do ideário de heroísmo ao redor do personagem principal, ver em: Angela Maria Rossas Mota de Guriérrez, "O Guarani e a construção do mito do herói", Revista de Letras, Fortaleza 1, n.° 29. Disponível em: https://repositorio.ufc.br/handle/riufc/803 e em José de Alencar, Obra Completa (Rio de Janeiro: Aguilar, 1959), 1-7.

12 Ver em: Sodré, Nelson Werneck, História da imprensa no Brasil (Rio de Janeiro: Mauad, 1999).

13 Strelow, Aline, "Jornalismo literário e cultural: Perspectiva histórica, Comunicação e Literatura", Revista Contratempo (2008), 12, https://periodicos.uff.br/contracampo/article/view/17465.

14 Jorge B Rivera, El escritor y la industria cultural (Buenos Aires: Atuel, 1998), 41.

15 Rivera, "La forja del escritor profesional (1900-1930)", 42.

16 Moyano, Julio, Alejandra V. Ojeda e Luis Sujatovich, "Revolución del magazine: la forja de las empresas editoriales en argentina (1904-1906)", in De la piedra al pixel. Innovaciones e reciclamientos en el campo de la História de los Medios (Buenos Aires: HISCOMALC, IEALC- Instituto de Estudios de América Latina y el Caribe, 2020), 344.

17 Sobre as características literárias que modificaram as maneiras de se fazer jornal no Brasil e no mundo, ver em: Mariana Couto Gonçalves, "O jornalismo literário no século XIX: a imprensa entre folhetins, crônicas e leitores" (XXVII Simpósio Nacional de História, Gonçalves, 2013). http://www.snh2013.anpuh.org/resources/anais/27/1371346244_ARQUIVO_artigoanpuh_versaofinal_.pdf.

18 Rivera, La forja..., 42.

19 Segundo Maria Heloisa Lenz (2008), "Do ponto de vista político existem dois momentos importantes na história argentina: o ano de 1852 e o de 1880. O primeiro marca a queda de Rosas determinando o fim de um longo período político no país caracterizado por disputas regionais e a subida para o governo de um novo grupo dirigente decidido a desenvolver o país, representante dos grandes proprietários de terra, e que governou de 1829 a 1832 com poder absoluto. O segundo momento ocorreu em 1880, com a federalização de Buenos Aires, quando a Argentina ficou definitivamente unificada. Este ano, em que Buenos Aires foi elevada à condição de capital federal, tem sido usado como um marco na história política e literária do país, a ponto dos políticos que assumiram o poder ficarem conhecidos como "hombres del 80", ou a "generación del 80". O arranjo encapsulado na Constituição de 1853 e o acordo de 1880 – que resultou na federalização da cidade de Buenos Aires –, foram os elementos que conferiram a caracterização final das instituições do período subsequente. Ver em: Lenz, Maria Heloisa, "A Buenos Aires do final do século xix: a metrópole de la 'Belle Époque' argentina", en Jornadas de Historia Económica. Caseros: Asociación Argentina de História Econômica, (2008), 4.

20 Para aprofundamento da sanção da Ley de propiedad intelectual e seus antecendentes, ver em: Lacquaniti, Leandro Gustavo. "La ley de propiedad intelectual de 1933. Proyectos y debates parlamentarios sobre los derechos autorales en Argentina", Revista Estudios Sociales Contemporáneos 17, n.° 12 (2017), https://ri.conicet.gov.ar/handle/11336/49560.

21 Díaz, César Luis, "Descartes y el periodismo de estadista. Una interpelación a vargas e a la opinión pública internacional (1951-1953)", Animus. Revista Interamericana de Comunicação Midiática, n° 19 (2020), 3, https://doi.org/10.5902/2175497744166.

22 Sobre o "periodismo de estadista", ver em: Arribá, S. "El peronismo e a política de radiodifusión (1946-1955)". In: Mastrini, G. Mucho ruido, pocas leyes. Economía y políticas de comunicación en la Argentina (1920-2004), 71-100 (Buenos Aires, La Crujía, 2005). Ver também: Berlín Sarmiento, A. Obras de D. F. Sarmiento (Buenos Aires: Establecimiento Poligráfico Márquez, Zaragoza y Cía).

23 Rivera, "La forja del escritor profesional (1900-1930)", 45.

24 Rivera, "La forja del escritor profesional (1900-1930)", 45.

25 Rivera, "La forja del escritor profesional (1900-1930)", 45.

26 Rivera, "La forja del escritor profesional (1900-1930)", 46.

27 Rivera, "La forja del escritor profesional (1900-1930)", 47.

28 Rivera, "La forja del escritor profesional (1900-1930)", 48.

29 Rivera, El escritor…, 332.

30 Rivera, "La forja del escritor profesional (1900-1930)", 51.

31 Rivera, El escritor..., 333.

32 Rivera, "La forja del escritor profesional (1900-1930)", 52.

33 Rivera, "La forja del escritor profesional (1900-1930)", 52.

34 Rivera, "La forja del escritor profesional (1900-1930)", 53.

35 Díaz, "Descartes y el periodismo de estadista. Una interpelación a Vargas y a la opinión pública internacional (1951-1953)", 296.

36 "La forja del escritor profissional (1900-1930)", 54.

37 Rivera, El escritor..., 327.

38 Rivera, El escritor..., 328.



Referencias



Livros


Bourdieu, Pierre. Campo de poder, campo intelectual. Buenos Aires: Folios, 1983.


_____. O poder simbólico. Trad. Fernando Tomaz. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.


De Alencar, José. Obra Completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1959.


De Melo, José Marques. Sociologia da imprensa brasileira. Petrópolis: Vozes, 1973.


Morel, Marco e Mariana Monteiro de Barros. Palavra, imagem e poder: O surgimento da imprensa no Brasil do século XIX. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.


Piza, Daniel. Jornalismo Cultural. 2ª ed. São Paulo: Contexto, 2004.


Rivera, Jorge B. El periodismo cultural. 3ª ed. Buenos Aires: Paidós, 2003.


Rivera, Jorge B. El escritor y la industria cultural. Buenos Aires: Atuel, 1998.


Sarmiento, Berlín A. Obras de D. F. Sarmiento. Escritos diversos. Buenos Aires: Establecimiento Poligráfico Márquez, Zaragoza y Cía, 1902.


Sodré, Nelson Werneck. História da imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Mauad, 1999.


Capítulos de livros


Arribá, S. "El peronismo y la política de radiodifusión (1946-1955)". In: Mastrini, G. Mucho ruido, pocas leyes. Economía y políticas de comunicación en la Argentina (1920-2004), 71-100. Buenos Aires: La Crujía, 2005.


Bosi, Alfredo. "Cultura Brasileira". In Temas e Situações (org.), 4ª edição, 2003. São Paulo: Ed. Ática, 1987.


Lenz, Maria Heloisa. "A Buenos Aires do final do século XIX: a metrópole de la 'Belle Époque' argentina". In: Jornadas de Historia Económica. Caseros: Asociación Argentina de Historia Económica, 2008.


Moyano, Julyo. "Jorge B. Rivera". In Ford, Landi, Rivera, forjadores de un campo, compilado por Eduardo Rinesi. Buenos Aires: Universidad Nacional de General Sarmiento, 2016.


Moyano, Julio, Alejandra V Ojeda e Luis Sujatovich. "Revolución del magazine: la forja de las empresas editoriales em argentina (1904-1906)". In De la piedra al pixel. Innovaciones y reciclamientos en el campo de la História de los Medios. Buenos Aires: HISCOMALC, IEALC- Instituto de Estudios de América Latina y el Caribe, 2020.


Rivera, Jorge B. "La forja del escritor profesional (1900-1930)". Historia de la Literatura Argentina, Capítulo 57. Centro Editor de América Latina, 1985: 361-384.


Artigos científicos


Díaz, César Luis. "Descartes y el periodismo de estadista. Una interpelación a Vargas y a la opinión pública internacional (1951-1953)". Animus. Revista Interamericana de Comunicação Midiática, n° 19 (2020). https://doi.org/10.5902/2175497744166.


Granja, Lúcia. "Machado de Assis, jornalista: o homem, o texto, o tempo". Olho d'água, n.° 2 (2010). https://repositorio.unesp.br/handle/11449/122609?locale-attribute=en.


Lacquaniti, Leandro Gustavo. "La ley de propiedad intelectual de 1933. Proyectos y debates parlamentarios sobre los derechos autorales en Argentina, Universidad Nacional de Cuyo". Revista Estudios Sociales Contemporáneos 17, n.° (2017): 66-85. https://ri.conicet.gov.ar/handle/11336/49560.


Morin, Edgar. "A grande diluição cultural". Revista Senhor (1963): 73-76.


Mota de Gutiérrez, Angela Maria Rossas. "O Guarani e a construção do mito do herói". Revista de Letras Fortaleza 1, n.° (2009). https://repositorio.ufc.br/handle/riufc/803.


Strelow, Aline. "Jornalismo literário e cultural: Perspectiva histórica, Comunicação e Literatura". Revista Contratempo, (2008). https://periodicos.uff.br/contracampo/article/view/17465.


Apresentações em eventos científicos


Gonçalves, Mariana Couto. "O jornalismo literário no século XIX: a imprensa entre folhetins, crônicas e leitores". XXVII Simpósio Nacional de História, Natal (RN), 2013. https://anpuh.org.br/index.php/documentos/anais/category-items/1-anais-simposios-anpuh/33-snh27?start=1020.